A “Operação Influencer” fez parar o país numa semana onde as notícias seriam repartidas pelo desenrolar das negociações entre o Ministério da Saúde e representantes dos médicos, eventuais manifestações, a dúvida se Marcelo Rebelo de Sousa estaria ou não implicado numa alegada cunha que envolveu gémeas brasileiras e a administração do medicamento mais caro do mundo, no Hospital de Santa Maria. Teríamos também muitos minutos dedicados à situação na Faixa de Gaza /Israel e tempo ainda para analisar a Guerra na Ucrânia.
Tudo isto ficou para segundo plano, quando na terça-feira a residência oficial do Primeiro-ministro, o Ministério do Ambiente e outros “locais” foram alvo de buscas. Numa fita do tempo que revela situações nada habituais, o dia acabaria com António Costa a demitir-se, vários detidos e arguidos, fruto de uma investigação sobre alegados favores a empresas com negócios no lítio, hidrogénio, e centro de dados de Sines.Nas redes sociais os memes multiplicavam-se (e multiplicam-se) e nas televisões comentadores e analistas tentavam, e ainda tentam, analisar as consequências e construir justificações para o terramoto do dia.
Pelo meio a palavra lobby ganhava uma nova conotação. Em vez do habitual “ceder ao lobby dos privados”, passou a ser sinónimo de “Operação Influencer”. Num País onde o lobbying não é reconhecido nem tão pouco existe a profissão de lobista, entenda-se “representante de um cliente claramente identificável”, o termo assumiu o significado de corrupção.
Para quem é da área da Comunicação e das Public Affairs, foi duro ouvir esta conotação. E foi tão mais duro quando quem é da área sabe o caminho percorrido para que o lobbying em Portugal possa ser feito com total transparência. Para que o lobbying possa ser regulado e a partir dai possa ser criado um registo de transparência entre contactos com o legislador e o decisor público.
O caminho tem sido longo, mas a falta de vontade política em Portugal tem sido uma constante. Talvez agora se perceba o porquê de não interessar a quem de direito que se conheça de forma clara, transparente quem os contacta e porque os contacta. Com lobbying legislado há transparência e integridade. E com transparência e integridade a Democracia funciona no seu pleno.
Mas o caminho faz-se caminhando e a esperança num futuro melhor, mais transparente e colorido não pode morrer. Não podemos permitir que Portugal continue sem uma legislação chave e que outros países se encontram a melhorar.
Do que depender de mim, quero continuar a acreditar que temos as condições para regulamentar também a profissão de lobista. Para transformar Portugal na Suíça da Europa. As eleições estão marcadas. É só não ter memória curta.
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