As habilitações para se ser professor vão voltar a baixar. Efetivamente, o Governo já aprovara a contratação de licenciados pós-Bolonha no ano letivo de 2022/2023, de modo a tentar colmatar a falta de professores, que é cada vez mais notória. Até à data, só seria admissível baixar a habilitação para a docência quando não existissem candidatos que possuíssem habilitação profissional para exercer a profissão. Contudo, neste projeto de diploma que estará em negociação, parece que a intenção é que esta situação se torne permanente, o que é verdadeiramente preocupante.
Esta situação muito nos diz acerca do estado da educação em Portugal. Na verdade, em vez de se tentar ir ao encontro dos motivos pelos quais cada vez menos jovens escolhem a docência como carreira, procurando alterar esta realidade com medidas que enalteçam mais a profissão, tapa-se o sol com a peneira com uma decisão que caminha na direção contrária.
Todos já percebemos que a educação está, desde há vários anos, colocada em segundo plano em Portugal, num jogo de faz de conta, como se estivesse tudo bem nas nossas escolas. A autoridade que está a ser retirada aos nossos professores e o prestígio negado a uma profissão, na verdade, tão nobre, terá consequências para todos no futuro, ainda que muitos se neguem a admiti-lo.
Ainda temos, por exemplo, pais que, quando o filho não quer fazer os trabalhos de casa, simplesmente comunicam por escrito à professora e o menino leva a sua avante. Pergunto-me onde vai parar a consideração pelos professores se são alguns pais os primeiros a desrespeitar o trabalho que estes realizam? Como vai este menino respeitar o professor se a própria mãe não o respeita? Será que, quando vai ao médico, questiona o que o mesmo prescreve? Desconfio que não…
O problema é que esta decisão de baixar a habilitação para a docência apenas virá piorar a situação. Quem vai respeitar o trabalho de um professor com menos habilitação do que aquela que devia possuir? Aliás, aquilo de que mais precisamos agora é de professores cada vez mais habilitados, a nível científico e pedagógico, e que o governo trabalhe no sentido de devolver a estes profissionais o respeito e consideração que merecem e de que devem gozar.
A solução poderá passar por uma reflexão sobre como tornar esta profissão novamente atrativa para os jovens, com salário adequado, uma carreira sólida em que sejam respeitadas as passagens de escalão para escalão, com estabilidade e garantia de emprego e na qual a autoridade do professor não seja permanentemente colocada em causa. O diálogo é urgente e passa, na minha opinião, por estas questões fundamentais.
Será tão difícil de perceber que afundar a educação é colocar em causa o futuro de uma nação inteira? O que esperarmos daqui para a frente se, nas nossas escolas, tivermos professores sem vocação e sem habilitação adequada? A crise na escola pública está visível aos olhos de todos e medidas urgentes impõem-se. O que esperamos para colocar mãos à obra?
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