Mais um ano letivo chega ao fim, desta vez marcado por grandes contestações e instabilidade. O pior de tudo é que o que termina é mesmo só o ano letivo, porque a insatisfação continua, pairando no ar a ameaça de que novas contestações tenham lugar no próximo.
Professores e sindicatos prometem continuar a lutar pelos direitos que lhes estão a ser negados pelo governo, num braço de ferro que me parece longe do fim e que o período de férias poderá somente atenuar, para que depois regresse com toda a força, em setembro.
É imperioso que se chegue a um acordo viável para todas as partes, para que os nossos alunos não saiam mais a perder no meio desta contenda. Viemos de um período pandémico em que as aprendizagens foram muito prejudicadas, particularmente no que se refere ao primeiro ciclo do ensino básico, as quais precisam de ser recuperadas e consolidadas. As greves permanentes prejudicam este processo, mas será justo também pedir aos professores que, depois de tanta luta, simplesmente desistam das suas reivindicações? Não me parece, até porque todas elas são justas. Esta foi uma classe fustigada ao longo dos últimos anos e que merece todo o respeito por parte não só do governo, como também da sociedade em geral.
Vivemos tempos de grande discrepância de salários no que diz respeito a profissões do domínio público e algumas destas diferenças salariais são inaceitáveis. Um professor aufere muito menos do que seria justo, face a todo o trabalho, com múltiplas funções, do qual é incumbido. Só isto seria suficiente para que houvesse contestação. Mas, se no pouco que já auferem, ainda é negado aos professores o que foi congelado durante anos ou o acesso a escalões de vencimento, como aceitar de braços cruzados injustiças que caem sempre no colo das mesmas profissões?
Neste caminho, não nos podemos esquecer dos pais e outros encarregados de educação que têm apoiado a luta dos professores, mas que também, legitimamente, se preocupam com o futuro dos seus filhos e com a instabilidade que a escola pública pode continuar a preconizar.
Ninguém saiu a ganhar da luta que se travou na arena escolar durante este ano letivo: nem gregos nem troianos venceram. Aliás, todos perderam. Por isso, é essencial que se chegue rapidamente a um consenso, a um acordo que permita ir ao encontro das reivindicações dos professores, enquadrado nas possibilidades financeiras do governo. Poderá ser um caminho gradual, mas o primeiro passo tem de ser dado, para que as nossas crianças e jovens possam ter um próximo ano letivo estável e pleno de aprendizagens e vivências no seio da comunidade escolar.
Resta-nos esperar com positividade que a bonança chegue e que um acordo seja alcançado, para que a estabilidade regresse e se possa começar a pensar em melhorar a escola por dentro, porque muitos outros problemas existem nos alicerces e que não podem ser esquecidos. Para a escola pública ter credibilidade, precisamos, antes de mais, de professores e alunos felizes e motivados!
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