Foram tornados públicos, na semana passada, os rankings das escolas, que, naturalmente, acabam por gerar sempre imensa discussão. Mas o que nos dizem esses rankings? Muita coisa, pouca coisa, ou coisa nenhuma?
Todos os dias, é levado a cabo um imenso trabalho diário nas escolas, por parte de professores, alunos, técnicos e funcionários, que, de modo algum, na minha opinião, se pode avaliar em números. Todas as escolas são microcosmos diferentes, com realidades específicas e, não raro, muito divergentes. Existem, como sabemos, meios privilegiados e meios menos privilegiados e isso pode fazer toda a diferença no acesso a apoios extraescolares que influenciam as notas finais em exames.
Pergunto: uma escola com alunos provenientes de um meio complicado, com menos acesso à informação, à tecnologia, a transportes, a apoios, entre muitos outros fatores, mas na qual se trabalha diariamente para que esses alunos ultrapassem as barreiras que os envolvem e tenham acesso à educação, salvando-os, muitas vezes, da marginalidade, tem menos valor do que uma outra cuja média de exames é superior? Parece-me que não, aliás, de todo!
Se olharmos para a realidade das instituições de ensino particular e percebermos que se encontram no topo do ranking, temos, primeiro, de perceber que os alunos que a esses estabelecimentos têm acesso são frequentemente selecionados pela instituição, que coloca logo de parte o acesso de alguns jovens com base em notas que tiveram em escolas anteriores. Assim, com matéria prima de excelência, torna-se, à partida, mais fácil chegar a esses lugares no pódio. Convenhamos, é muito mais agradável e conveniente para um professor trabalhar com alunos empenhados, com boas capacidades de aquisição de conhecimentos, com famílias com poder financeiro para suportar apoio extracurricular, do que diariamente lidar com jovens que estão pouco motivados e que provêm de meios difíceis e desfavorecidos.
Contudo, não podemos simplesmente desmerecer o trabalho levado a cabo nas instituições de ensino particular. Seria completamente injusto uma “caça às bruxas” deste tipo, e contra a qual me oponho, desde logo. Uma coisa é olharmos para os factos com clareza, outra coisa é tirar o mérito a quem o tem. E existem diversos colégios, externatos, entre outros, que todos os dias também desenvolvem um trabalho de excelência, acompanhando os seus alunos, e com professores com elevadas capacidades científicas e pedagógicas.
Ou seja, para mim, não existem escolas de primeira ou de segunda. Existem realidades diferentes e não comparáveis. Assim como os alunos não se devem comparar, as escolas deveriam seguir a mesma ordem de pensamento. Os rankings são, pois, injustos e conferem uma falsa imagem do que se passa em muitas escolas do ensino público.
Isto não significa, porém, que não devamos estar atentos ao que se passa na escola pública, não baixando o nível de exigência. Desde há uns anos a esta parte, os professores sentem-se muito pressionados, ou por pais ou por algumas direções, a dar notas superiores às que vários alunos merecem. Mais uma vez, temos a competição por médias e por estatísticas… O que acontece? Os alunos chegam aos exames nacionais e não estão preparados para os mesmos. Já é tempo de se parar de banalizar resultados e de pressionar quem avalia.
Primeiro ponto: só um professor sabe o que cada aluno merece, de acordo com o trabalho que aquele aluno desenvolveu. Se um aluno quer obter média para chegar a determinado curso, então deve estudar para tal e demonstrar esforço. Segundo ponto: isto não significa que as escolas não devam estar atentas ao trabalho desenvolvido pelos seus professores, porque é essencial que mantenhamos um ensino de qualidade, exigente e sério no ensino público. Terceiro ponto: temo que, com a desvalorização da carreira docente, tenhamos, cada vez mais, professores sem vocação e que só estarão na profissão por não terem obtido média para outro curso, e isto é extremamente preocupante. Precisamos de professores motivados e com vocação, caso contrário, a escola pública correrá sérios riscos no futuro.
Para concluir, o mundo já é tão altamente competitivo que não há necessidade de transformarmos a educação nesta corrida desenfreada por resultados. A escola é, na verdade, muito mais do que resultados numéricos. É, para muitos, uma segunda casa. E, se para muitos, a sua casa é uma mansão, outros não deixam de ser felizes no seu apartamento modesto. O que importa é o ambiente que se vive lá dentro.
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