Quando as mulheres se tornam mães, mesmo quando o bebé ainda se encontra dentro do seu ventre, entram em todo um mundo novo, desconhecido até então: o da cobrança social, acima de tudo feminina, sobre o que se espera de uma mãe.
A partir desse momento, acontece como que um fenómeno estranho e perverso entre algumas mulheres que julgam as restantes pelo seu padrão de maternidade, o que não poderia estar mais errado. Deus me livre se uma mulher escolher não amamentar o seu filho! Cai logo o Carmo e a Trindade, porque a mãe foi preguiçosa ou egoísta. Quantas de nós, mães, já ouvimos este disparate? Numa dada ocasião, cheguei mesmo a ouvir da boca de uma mãe que as mães que amamentavam criavam uma ligação maior que os filhos que as restantes! Mas isto cabe na cabeça de alguém? Então as mães que adotam crianças com tanta dedicação, não as amam tanto ou mais que outras? Uma mãe que adota uma criança com todo o afeto não a ama mais do que uma outra que amamentou o seu filho mas que o sujeita a maus tratos? A resposta parece-me óbvia.
Já é altura de se parar de pensar que uma mulher, a partir do momento em que se torna mãe, deve agir segundo o que a sociedade espera de si. Cada mulher deve fazer as opções que considera as certas para a sua situação em concreto e para o seu equilíbrio pessoal.
Sim, as mães, acima de tudo, são pessoas também! E mulheres! E, como mulheres, também têm direito a uma carreira, a se sentirem realizadas como profissionais. Nada contra as mulheres que se dedicam por inteiro à família, porque cada um sabe de si e do que lhe traz felicidade. Mas também não podemos, de todo, julgar, as mulheres que desejam ter uma carreira de sucesso, que amam o seu trabalho. A vida de uma mulher não termina no dia em que dá à luz. Há mais caminhos para além da maternidade e isso não impede uma mulher de ser uma ótima mãe. Aliás, mulheres felizes e realizadas serão, certamente, melhores mães, pois não acumularão frustrações dentro de si.
Da mesma forma, uma mulher tem direito a querer continuar a sentir-bonita, a arranjar-se, a cuidar de si, a almejar sentir-se atraente. Isso em nada a diminui como mãe, só mostra que cultiva o seu amor próprio, o que a torna mais segura e concretizada. Paralelamente, uma mãe pode e deve ter hobbies, tempo para si e para aquilo que a torna um ser individual.
Paremos de perder tempo com julgamentos descabidos sobre o protótipo da mãe perfeita. Há, sem dúvida, vida para além da maternidade, e as mulheres têm toda a legitimidade para o desejarem, continuando, certamente, a serem ótimas mães! Da mesma forma, se uma mulher optar por não ser mãe, tal decisão diz respeito apenas a ela. Já vai longe o tempo em que as mulheres nasciam já com o futuro como que pré-desenhado: nasciam para casar e ser mães. Depois de tantos anos de luta pelos nossos direitos, é triste ainda existirem tantas mulheres que continuam a julgar as outras… Opinião todos podemos e devemos ter, mas não é legítimo esperarmos que os outros sejam iguais a nós. Cada mulher sabe de si, do seu caminho, das suas opções e da sua realização pessoal. É preciso fazer um desenho?
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