O aumento do débito, ou “internet mais rápida” em linguagem corrente, significa que passaríamos para dezenas de Gbps (Gigabits por segundo) – e para que servem dezenas de Gbps, se neste momento já conseguimos ver filmes em streaming, com alta qualidade e aceder às redes sociais ou ver e-mails? Será assim tão importante aumentar o débito? A resposta é positiva, pois ter mais Gbps significa que, para manter a mesma qualidade de serviço, é possível ter mais utilizadores, ou seja divide-se mais Gbps por mais pessoas, permitindo, por exemplo, que o vídeo de um jogo de futebol ou de um concerto seja mais rapidamente colocado nas redes sociais, e que a rede não fique congestionada como acontece hoje. Também permite fazer streaming the vídeos 4K ou 6K, se isso for importante!! Ou ainda ver vídeos 3D ou de realidade virtual com altíssima qualidade.
E a latência, o que é isso? E é importante? A latência em linguagem comum significa basicamente a rapidez com que o meu sinal é processado na rede. Os fabricantes de chips para 5G costumam dar como exemplo um cenário em que um condutor com óculos de realidade virtual conduz um carro enquanto uma câmara carro capta o exterior do carro. A câmara filma a estrada, o sinal passa pela rede 5G até chegar aos óculos de realidade virtual do condutor. Ora a latência fica automaticamente responsável pela velocidade com que o condutor consegue tomar decisões, pois o sinal sai da câmara vai à estação base, e volta aos óculos. Este tempo é a latência. Então para que serve? Servirá para permitir, por exemplo, que os automóveis autónomos possam partilhar informação mais rapidamente entre eles e que sistemas críticos sejam mais robustos. Servirá para o futuro das redes da indústria 4.0, no qual decisões em tempo real são determinantes.
Finalmente o outro objetivo é a massificação de sensores da chamada internet das coisas (IoT, Internet of Things em inglês), e aqui o que muda? O que se queria mudar era de facto ter milhões de equipamentos instalados, por exemplo nas cidades inteligentes, de forma a monitorizar os caixotes de lixo em tempo real, a monitorizar o trânsito ou a monitorizar o consumo energético entre muitas outras aplicações, e para isso o 5G promete sensores mais baratos e com consumos de energia muito mais reduzidas das que existem hoje com as redes 4G.
Mas para que isto aconteça o que é preciso? O que muda do ponto de vista técnico? Algumas das alterações incluem protocolos de rede completamente diferentes dos atuais, capazes de processar muito mais informação, capazes de reagir em tempo real e de forma quase autónoma; por isso, o software de gestão das redes de comunicação irá mudar significativamente, e a forma de operar também. Um dos exemplos é o que se chama de “network slices”, no qual são permitidas configurações de rede diferentes numa mesma infraestrutura: comunicações telefónicas, redes de alto débito para comunicações de vídeo em streaming, ou sistemas de segurança e emergência podem coexistir na infraestrutura, mas separadas do ponto de vista de controlo de rede. Na Alemanha, surgiu recentemente um exemplo das vantagens possíveis com os “network slices” que é muito fácil de compreender. Durante um ataque terrorista, as forças de segurança decidiram desligar as comunicações móveis, reduzindo assim a capacidade de comunicação dos terroristas. No entanto, esta ação também impediu que as forças de intervenção utilizassem as redes de comunicação 4G para serviços de emergência. O que fez com que essa rede não pudesse ser utilizada para a componente de emergência. No 5G, teríamos um slice (fatia) para cada rede, permitindo desligar uma e não a outra.
Como se pretende dar mais serviços e mais soluções, também será necessário aumentar a largura de banda física. Por isso, é preciso aceder a mais espectro para o 5G. Por essa razão é que se está a libertar espectro nas bandas dos 700MHz (a banda que estava alocada à TDT), 2.6GHz, 3.5GH, 28GHz entre outras faixas de espectro que até aqui eram utilizadas para outros fins, mas que vão passar a ser alocadas internacionalmente para o 5G. Tal como no passado recente com o dividendo digital, obteve-se espectro para o 3G e 4G.
Recorde-se ainda que o 2G começou com bandas nos 900MHz e depois nos 1800MHZ (DCS) e, aquando da entrada do 3G, passou-se a utilizar também os 1.9GHz. Será ainda expectável que se utilizem mais antenas, ou maior densidade de antenas, em situações específicas para cumprir estes objetivos, mas esta utilização até pode ser benéfica, pois cada uma pode reduzir a potência transmitida e, por isso, a densidade de potência pode ser mais reduzida, similar ao que já acontece com o WiFi, que hoje tem uma densidade de antenas instalada em muito superior a qualquer rede 4G.
Mas o 5G só chegará verdadeiramente, como disse Martin Cooper (pai do telemóvel), quando o acesso aos dados for equivalente ao ar que respiramos, ou seja existe em todo o sítio e é gratuito!