A vida não está fácil para os fabricantes de smartphones. Apesar do mercado ter registado uma subida de 3% em valor, a verdade é que, em termos de volume, há cinco trimestres consecutivos que as vendas estão a baixar. Ou seja, as empresas vendem menos telefones, mas mais caros. As margens generosas nos topos de gama acabam por compensar a perda no número de telefones colocados no mercado. É por isso que os principais fabricantes abandonam as gamas de entrada apostando nas médias e nas altas. E não só. Depois de vários anos de algum marasmo, a inovação está de volta aos terminais.
Faça o seguinte exercício: procure, aí na sua memória, qual foi a última grande alteração de design num smartphone? As laterais curvadas dos Edge, da Samsung, certo? Essa é a que me recordo com mais evidência. De resto, os telefones têm sido, basicamente, retângulos cada vez mais finos e com ecrãs maiores. Até este ano. Na realidade, até dezembro do ano passado, altura em que a chinesa Royole e a coreana Samsung mostraram os seus telefones… com ecrã dobrável. Era a resposta dos fabricantes à quebra de vendas e à necessidade de ter margens mais generosas: criar um terminal muito caro que mostra o caminho a seguir pelo mercado.
Não quero com isto dizer que de repente toda a gente vai começar a comprar um telefone que custa mais de 2000 euros. Não é isso que vai acontecer. Mas o que é fácil antecipar é que num futuro próximo, estes dobráveis vão entrar num processo de massificação. Uma curva muito ascendente devido à capacidade que os fabricantes têm, agora, de produzir de forma mais rápida e com rentabilidades superiores.
Depois da Samsung, foi a vez da Huawei mostrar o Mate X, um telefone de ecrã dobrável que já vem preparado para o 5G e integra uma série de tecnologias muito pertinentes. Aliás, o fabricante chinês, dominou o Mobile World Congress – a maior feira de telecomunicações do mundo – que se realizou a semana passada em Barcelona.
E, afinal, o que vai acontecer agora com os dobráveis? O que acontece sempre em tecnologia: os telefones mais avançados e que representam uma rutura com a realidade vigente chegam em número escasso a mercados selecionados e a preços proibitivos. Além disso, trazem experiências de utilização ainda em desenvolvimento (ou seja, parcas em funcionalidades e com vários bugs de utilização) e o ecossistema de aplicações desenhadas à medida é escasso. É verdade que este é o The Ultimate Gadget para este ano, mas tive oportunidade de mexer nos dispositivos da Huawei e Samsung e, acreditem, há trabalho a fazer. Seja a nível de hardware onde a integração de ecrãs de melhor qualidade é a mais evidente; seja a nível de software onde ter um vídeo do YouTube a correr enquanto escrevo um mail não é, mesmo, uma killer feature.
Reconheço, claro, que há muito potencial nestes equipamentos. Afinal, juntar com sucesso o conceito de telefone com de tablet é uma quimera almejada pelos fabricantes há muito tempo – Apple e Samsung bem tentaram. Desafio conquistado agora porque, essencialmente, já temos a tecnologia para desenvolver ecrãs flexíveis. E veio mesmo a tempo.
No final deste ano, vamos ter acesso aos primeiros pilotos reais de 5G e em 2020 a nova geração de comunicações móveis entra no mercado e traz consigo as maiores velocidades de sempre possíveis na Internet móvel. Nesse cenário, faz todo o sentido ter um equipamento de ecrã generoso que permita experiências em realidade aumentada, o acesso a jogos online mais exigentes e, por exemplo, a visualização de conteúdos de vídeo de melhor qualidade numa grande tela. Por isso, quero ter um telefone destes, é certo, mas é preciso esperar. Um ano, pelo menos.