Conhece o nome Inês Guimarães? Talvez o de Math Gurl lhe seja mais familiar – é uma youtuber de 20 anos, cujo canal conta com mais de 66 mil subscritores. Tive oportunidade de a descobrir recentemente quando assisti à parte final da sua apresentação no festival da Visão Júnior. A facilidade e entusiasmo com que falou de questões matemáticas cativou-me imediatamente, até porque a minha aptidão para o mundo dos números ronda a nulidade. Passei a segui-la no Facebook e no Instagram. E foi precisamente quando carreguei no botão Seguir do Instagram que me deparei com algo inesperado: uma das primeiras sugestões de outras pessoas para seguir com caraterísticas similares era Jair Bolsonaro (que surgia ao lado de Nuno Markl). Fiquei a olhar para o ecrã do smartphone enquanto proferi algo parecido com um WTF, a seguir soltei uma pequena gargalhada e, por fim, pensei em voz alta que a malta das redes sociais está toda louca.
A aparente cegueira dos algoritmos conduz a resultados bizarros como este. A automatização de processos é inevitável em tarefas tão simples como sugerir pessoas com perfis semelhantes àquele que acabámos de seguir. Mas se o Instagram falha grosseiramente aqui, é de espantar que haja erros bem mais graves para explorar? Jair Bolsonaro utilizou com sucesso o WhatsApp para o ajudar a ser eleito presidente do Brasil ao difundir uma série de ideias com informações falsas nesta plataforma de mensagens e parece ter feito igualmente algum trabalho no Instagram.
A razão pela qual junto o Instagram ao WhatsApp é porque ambas foram adquiridas pela mesma empresa: a Facebook. E é precisamente na rede social criada por Mark Zuckerberg que parecem residir os problemas mais sérios. Foi provado que a Rússia conseguiu interferir com sucesso no resultado das eleições norte-americanas ao difundir campanhas massivas de fake news no Facebook. Pessoalmente, partilho da opinião de quem argumenta que já se perdeu o controlo sobre o algoritmo da rede social – opinião que reforço sempre que entro no meu feed de notícias e constato que os conteúdos mostrados são cada vez menos interessantes.
A curadoria humana poderia ser uma solução interessante para domar um pouco este mundo selvagem e a própria Facebook está a recrutar pessoas para estas funções (inclusivamente em Lisboa). Mas fica a sensação que será “too little, too late” – seriam precisas demasiadas pessoas para conseguir restaurar ligeiramente a ordem e a Inteligência Artificial pode ser eficaz a identificar e bloquear mamilos, mas ainda tem falhas a nível de contextualização. Portanto, agora que estamos no último mês do ano, parece-me seguro dizer que Mark Zuckerberg fracassou na resolução que fez para 2018: arranjar o Facebook. É verdade que, no passado, conseguiu cumprir resoluções como aprender mandarim, mas este ano revelou-se um flop – aliás, tem sido até pressionado para sair da liderança da empresa. Portanto, a menos que Zuckerberg se arme em Pai Natal nas semanas que se seguem, este será um ano falhado. E há alguém que ainda acredite no Pai Natal?