Como não sou exibicionista, vou poupar pormenores sobre aquilo que se pode encontrar na minha caixa de e-mail profissional:
– alguns e-mails de pessoas que me deram informação sob anonimato;
– Um ou outro secretário de estado; e penso que até um ministro antes de o ser
– pouco mais de uma dezena de mensagens onde descomponho alguém que me pareceu incompetente na hora de me dar informação e um pouco mais de uma dezena de e-mails em que essas pessoas justamente me retribuem na mesma moeda;
– alguns poemas ridículos que me hão de envergonhar até ao último torrão de terra cair sobre o meu caixão;
– cartas para os meus filhos e para a mãe dos meus filhos;
– confirmações de serviços online relacionados com o fornecimento luz, gás e sei lá que mais;
– cópias de comprovativos de morada, transações, números de contribuinte e cartão de cidadão que enviei no passado para alguém que agora não interessa mencionar
– um número indeterminado de piadas enviadas por amigos ou colegas de redação – algumas dessas piadas são escabrosas e têm palavrões
– um ou outro e-mail com uma foto de uma miúda que notoriamente só se tornou motivo de interesse pela sensibilidade, a delicadeza, a profundidade intelectual, a simpatia e o arrojo artístico
– várias mensagens em que critico e/ou insulto o governo, a oposição, o Isaltino e o Medina, colegas de profissão, uma pessoa que me desiludiu, chefes, a concorrência, o capitalismo selvagem e até a humanidade em geral
– Incontáveis e-mails em que proponho reportagens, procuro notícias, tiro dúvidas, pergunto por nomes mal redigidos, troco imagens e cumprimentos
– Um número indeterminado de convites para almoço de trabalho que em 90% dos casos não aceito
– Um número indeterminado de convites para jantar que enviei no passado e que, invariavelmente, me são devolvidos com respostas negativas das destinatárias. Minto: num ou noutro caso não houve sequer resposta; e uma das interlocutoras chegou mesmo a responder: «ahahahaha, a sério?»
– Dezenas de milhares de comunicados e sei lá quantas tentativas de me convencer a escrever sobre alguma coisa – tudo com contactos pessoais e moradas bem legíveis
– Um chorrilho de coisas que as pessoas que têm família, amigos, inimigos, colegas, entrevistados, tempos de lazer, obrigações e trabalho costumam ter na caixa de correio eletrónico
Terminada esta descrição resumida, é chegada a hora de invocar o homem a quem dou honra de título nesta crónica para lhe colocar uma questão: Francisco J. Marques, achas mesmo que tens o direito, a legitimidade, ou apenas a moralidade para usar a minha caixa de correio eletrónico, e desatar a ler os meus e-mails num programa de TV?
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