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Portugal não gosta de quem é bom. Faz muita sombra. Faz muito pensar. Portugal não gosta. Portugal diz muito que não podes ser, assim, assado e muito menos tudo. Portugal não quer só não ser, quer também que tu não sejas, que não lhe lembres que ele se esqueceu de existir. Portugal quer tudo igual, fácil e encaixotável. Portugal à beira mar plantado não quer ondas. Abdica-te-se-queres-ser-daqui, grita ele indignado com a tua coragem. Aqui, essa terra que compra o mau a achar que é bom e que não tem nem vergonha nem consciência. Aqui, onde se premeia o medíocre e se abafa o génio, aqui.
Portugal diz com desculpas que a culpa é da pequenez, mas não é no território que Portugal é pequeno, é nas mentes, é nos peitos atarracados, é na pobreza dos espíritos. Para Portugal ser grande não são precisos mais quilómetros, é somente necessário mais olhos abertos. Corre por entre novos e velhos a mesma cartilha, o mesmo temor, os mesmos cotovelos, as mesmas palas que tantos outros história da literatura fora apontaram. Portugal implode em câmara lenta.
VOCATIVO
Portugal, amor meu, berço e sonho, esperança tanta de um cinco prometido, como levar-te para onde não queres ir, como fazer-te nascer se não sabes que estás antes da vida, como erguer-te? Não acredito na pátria, acredito na missão. Acredito na tua missão, pátria, e se te amo é como cara do futuro que vimos fazer-te. A terra não importa nada, mas a Terra importa tudo. Tu, Portugal, só importas o que não importa, esqueces-te de mandar vir de fora as coisas valiosas que te faltam no espírito.
No teu sangue algures perdido estará o que ardia no sangue dos bravos, dos visionários e dos sonhadores que atravessaram oceanos. Já foste isso, Portugal. Todo tu, não só uns loucos na esquina da noite a fazer um universo paralelo com que sonhar, todo tu te atiraste para o futuro e todo tu chegaste lá. Se te lembrasses da coragem para inventar mundos onde só sabias haver mar, se te acordasse no peito a hipótese e o prazer da descoberta em vez de contares os dias e deixares os sonhos na orla do coração para dar lugar ao que basta e ao que é permitido, se, sempre se, ssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssss sssssssssssssssssssssss. Abdicas-te, Portugal, para não ser.