Sempre que Donald Trump abre a boca ou envia nova mensagem pelo Twitter, há uma reação cada vez mais inevitável: cresce o sentimento de saudade por Barack Obama. Não que este tenha concretizado, ao longo dos seus 2922 dias na Casa Branca, toda a esperança que prometera quando tomou posse em 2009, então com 47 anos, num discurso, em Washington, perante 1,8 milhões de pessoas. Mas porque qualquer legado de um Presidente dos Estados Unidos da América é sempre medido, em primeiro lugar, pela comparação. E, nesse campo, ele sai claramente vencedor face ao seu antecessor e, por enquanto, dá goleada ao seu sucessor. Segundo as sondagens, Obama abandona a presidência com uma taxa de aprovação de 56% da opinião pública, quase o dobro dos 29% com que George W. Bush saiu da Casa Branca e bastante mais do que os 40% agora atribuídos a Donald Trump – a taxa mais baixa para qualquer Presidente nos últimos 40 anos e escandalosamente inferior aos 86% de Obama, há oito anos. Mais: mesmo que não tenha conseguido concretizar a “nova esperança” com que foi eleito, Obama conseguiu, de forma clara, inverter a imagem dos Estados Unidos da América no exterior – que andava pelas ruas da amargura nos últimos anos de Bush. E, se é bem verdade que não conseguiu quaisquer resultados em alguns dos dossiês mais importantes dos seus mandatos – o desastre humanitário na Síria, o encerramento de Guantánamo, o regresso da violência racial aos EUA e o aumento da desigualdade social –, ninguém pode negar que teve uma ação decisiva para fazer a economia americana voltar a crescer, depois da recessão de 2008, empenhou-se a sério numa série de questões sociais, conseguiu trazer o tema das mudanças climáticas para a primeira linha das preocupações mundiais, diminuiu a presença militar no exterior e abriu novos caminhos nas relações com Cuba e o Irão.
Obama não foi o líder transformador que prometera ser. E esse foi o seu maior falhanço, tanto na América como no mundo. Ao não ter conseguido concretizar a esperança que insuflara, ele acabou por deixar o caminho aberto para poder ser desbravado pelo populismo de Donald Trump. O verdadeiro julgamento da sua ação será feito, naturalmente, pela História. E, novamente, através da comparação com o seu sucessor. Mas já se começa a ter saudades.
(Opinião publicada na VISÃO 1246, de 19 de janeiro)