1 – Rio 2016, resultados positivos ou negativos? À luz do valor real dos nossos atletas, positivos. Muitos fizeram as suas melhores marcas ou estiveram dentro do seu registo normal, posicionando-se entre os melhores do mundo.
2 – Decorreram três ciclos olímpicos com este “novo’ modelo de preparação”, contudo não conseguimos em nenhum (Pequim 2008, Londres 2012 e Rio 2016) superar os resultados de Atenas 2004. Após Londres 2012, uma das prioridades claramente assumidas foi a definição de “objetivos desportivos quantificáveis”. Vejamos, então, quais foram os referenciais de resultados fixados para o investimento de 13,5 milhões de euros no ciclo Rio 2016: 25% dos atletas integrados no Nível 1 deviam alcançar classificações de pódio; 50% dos atletas no Nível 2 deviam alcançar classificações de finalista; 80% dos atletas de Nível 3 deviam alcançar classificações de semifinalista.
Apesar de estar claramente contratualizado, na verdade nunca houve a definição e divulgação nem foram assumidos publicamente os objetivos individuais. E os resultados no Rio mostraram que dos 9 atletas enquadrados no Nível 1, à data de agosto, só um atingiu a medalha. E só seis dos 24 no Nível 2 atingiram o objetivo de finalista.
3 – O Reino Unido, que fixou a ambiciosa meta de amealhar 66 medalhas no Rio 2016, conquistou 67, das quais 27 de ouro. Escolheram modalidades estratégicas e com potencial de medalhas, apostaram em atletas profissionais e organizações desportivas profissionalizadas e uma forte ‘public accountability’. O financiamento público através da lotaria permitiu alocar grandes recursos, reforçados em relação ao ciclo de Londres 2012. Durante o ciclo do Rio 2016 realizaram uma revisão ao projeto, com realocação de fundos de acordo com os resultados dessa avaliação.
4 – Em Portugal, precisamos urgentemente de um projeto dinâmico para afinar a nossa eficiência e eficácia para atingir resultados de pódio. Isto se o objetivo do Projeto de Preparação Olímpica for melhorar os resultados desportivos, porque se for apenas participar dispensamo-nos a esse trabalho. Mas se for, temos que avaliar se faz sentido ter um financiamento igual para modalidades com potenciais diametralmente opostos de conquistar medalhas. Levar aos Jogos apenas 50% dos atletas que foram apoiados durante os quatro anos do ciclo é uma realidade a alterar ou uma consequência inevitável? Factualmente, investimos 13,5 milhões para resultados de excelência e estes, na prática, são objetiva e claramente inferiores aos obtidos há 12 anos, em Atenas 2004.
5 – A justificação de faltas de apoio não parecem totalmente fundadas, nem forma de desresponsabilizar. Existem casos pontuais e modalidades cujos custos de preparação não são iguais, pelo que sendo o apoio igual implica desigualdade.
Um atleta integrado no projeto de preparação olímpica com Nível 1 (medalhado) aufere uma bolsa mensal de 1350 euros (isenta de impostos), uma bolsa para o seu treinador e o montante anual de € 30.000 para a sua preparação. A esta verba acrescem as auferidas nos clubes, patrocínios, prémios de participação em provas e prémios de mérito desportivo.
6 – Portugal tem um problema grave de prática desportiva e de cultura desportiva, todos o sabemos. Porém, os talentos vão aparecendo e tudo podia ser bem diferente. Definir objetivos claros, quantificáveis e mensuráveis, sujeitos a avaliação periódica e dinâmica. Implementar uma política de regras objetivas e exigentes, uma gestão mais eficiente e eficaz. Com isso, sim, podemos melhorar o nosso desempenho olímpico. Isto se Portugal realmente quiser ganhar medalhas nos Jogos Olímpicos. Da forma como estamos, parece que não é o caso. E se todos estão satisfeitos com estes resultados apenas teremos, então, que manter o mesmo caminho.