Tudo parece começar e acabar aqui, nesta rocha lançada contra o oceano. A cabeça do continente estica o pescoço sobre o mistério e olha outras terras, a que vemos no horizonte e as que não vemos mas adivinhamos.
A fé está inscrita ao longo da costa em cruzes altas e brancas que assinalam a morte às mãos da falésia e da força do mar e anunciam outro lado para as coisas.
O sol põe-se atrás da ilha. Em contraluz faz lembrar um animal a dormir. Com ele dormem os sonhos nessa terra para onde não podemos caminhar. A ilha chama-nos como uma promessa, um passo seguro e secreto entre o continente e as outras terras que estão para lá dela e que não conseguimos ver.
Gaivotas dançam de azul a azul como se na pausa da gravidade. Porque sabem o caminho, cantam antigas canções brancas.
O cabo é um vértice, uma ponta impossível erguida contra o vento, a água e as intempéries, a península um longo promontório que paga o preço de olhar o futuro. Esta pedra que o mar esculpe ainda se lembra de ter sido uma ilha. Olha a ilha em frente e sabe-se irmã. Não é um círculo, mas a cada rugir de onda anuncia-se um círculo completo.