“Queremos ser nós próprios. Um partido social-democrata de centro-esquerda, como sempre disse, e defendeu (e atacou, quando necessário) Francisco Sá Carneiro”, porque “não basta sermos livres, quando ainda há desigualdades flagrantes no nosso país“. Francisco Pinto Balsemão nas comemorações dos 49 anos do PSD.
Bem sei que o que mais excitou as pessoas foi o militante número um ter dito que o partido é de centro-esquerda. Nem eu nem ele desconhecemos a lição de Shakespeare no Romeu e Julieta quanto aos nomes, mas Balsemão disse o óbvio: um partido social-democrata, pela definição tradicional, é sempre um partido de esquerda.
No entanto, não tenho qualquer dúvida de que o fundador do PSD sabe bem o quão esvaziados de conteúdo estão os conceitos de esquerda e de direita.
Também estou certo de que ele sabe muito bem que o PSD está longe de ter tido uma conduta consistente no que diz respeito à defesa do seu nome. Ou seja, não foi social-democrata demasiadas vezes.
O que importa no que Balsemão disse é a proposta de definição de um caminho. Afastar terminantemente a extrema-direita de qualquer acordo, falar de desigualdade e frisar que não há liberdade sem igualdade importa mil vezes mais do que dizer se o que cheira bem se chama rosa ou malmequer.
O PSD dificilmente será visto como alternativa ao PS se não definir claramente o caminho.
Não chega dizer que não quer ser como os socialistas. Esta espécie de tática, aliás, não faz mais do que apoucar os (de vez em quando) social-democratas e tem contribuído de uma forma significativa para o afundamento do centro-direita. Ser contra é próprio dos partidos de protesto – a propósito, a diabolização do PS é das coisas mais absurdas que há: a democracia é feita com pontes, não com trincheiras.
O PSD tem de ter o seu programa e as suas propostas sem se preocupar se os socialistas ou quem quer que seja tenha parecidas ou iguais.
Quando Balsemão fala da importância da igualdade para a liberdade, alerta para o problema das desigualdades e exclui a extrema-direita sabe o que isso implica programaticamente em praticamente todos os setores da comunidade. Desta forma, está a defender um rumo para o PSD. Um completamente oposto ao da agenda neoliberal de Durão Barroso e, sobretudo, de Passos Coelho. Também em oposição a quem, até na direção de Montenegro, defende acordos com o Chega. Nada mais claro.
Sei bem o quanto irritou à ala muito direitista do PSD a declaração de Francisco Pinto Balsemão. Nada de novo, o Passismo e seus compagnons de route sempre o viram como um inimigo.
O facto de o PSD ter tido ao longo dos tempos gente de várias tendências nunca excluiu a definição de uma estratégia de governação e um caminho ideológico (que, feliz ou infelizmente, foi variando).
Mais, a fragmentação do espaço ideológico do centro-direita contribuí para que já não chegue o desgaste do partido do governo para que se chegue ao poder.
É preciso com urgência definir o que o PSD realmente quer, pois só assim vai ser visto como uma alternativa à governação socialista.
Luís Montenegro não pode ser só visto como oposição, tem de ser visto como um possível primeiro-ministro e nunca será credível se não se afirmar ideológica e programaticamente.
Francisco Pinto Balsemão abriu o caminho para o debate e a clarificação do que o PSD de facto quer para o país. É mais um serviço que presta ao partido.
Nota: presto serviços ao grupo Impresa que como é do conhecimento geral tem Francisco Pinto Balsemão como principal acionista.
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