“Lisboa, terra de oportunidades. Há 70 anos, dois jovens deixavam a Beira Alta rumo a Lisboa à procura de uma vida melhor. Assim começava uma história de trabalho e superação, de dor e emoção, de esperança e amor que, tal como nos desenhos animados, nunca, quase nunca, acabam mal. Hoje vivemos com menos liberdade porque cada vez menos ouvimos histórias felizes onde as pessoas são as personagens principais. #EstáNaHora de devolvermos a esperança a Lisboa!”
O candidato à Camara de Lisboa escreveu isto na sua página do Facebook. Ficamos assim a saber que o candidato Bruno Horta Soares não só acha que Lisboa, há 70 anos, dava mais oportunidades a quem lá chegava para tentar a sorte, como havia menos liberdade. E chega a essa conclusão porque “cada vez menos ouvimos histórias felizes onde as pessoas são as personagens principais”.
Demos de barato as tais histórias sem pessoas nos principais papéis, é provável que seja um ataque ao PAN ou aos historiadores ou novelistas que só escrevem sobre prédios e bolos como protagonistas.
Como o Bruno Horta Soares claramente não sabe, talvez seja melhor lembrar-lhe que em Lisboa e no país, na altura de que fala, a pobreza era generalizada, a mortalidade infantil era a mais elevada da Europa, as taxas de alfabetismo eram miseráveis, nas zonas limítrofes de Lisboa havia um mar de barraca, o trabalho infantil era comum e promovido, o acesso à Universidade era quase em exclusivo para os ricos e nem vale a pena falar do acesso à saúde. Digamos que não parece que haja um único índice que sustente que as oportunidades eram sequer vagamente parecidas com as de agora.
Pelos vistos, o candidato a Lisboa pela IL também desconhece que por esses tempos Portugal vivia sob uma ditadura. Ou seja, e tentando simplificar para ficar mais acessível, a liberdade estava muito limitada. E não era só a liberdade de opinião, era mesmo todas as liberdades, até aquela que a IL parece achar superior às outras, a económica.
Não tenho dúvidas de que o Bruno Horta Soares prefere a democracia à ditadura, como estou certo de que se soubesse do que fala não diria os disparates que disse. Será apenas ignorância.
A questão é que temos um problema quando a promoção da ignorância é feita por um político de um partido que até tem representação parlamentar e tem um programa e uma ação política muito válida. E note-se, apesar de ser absolutamente legítimo fazê-lo – até porque a candidatura à principal câmara do País não é uma tarefa que se entregue a qualquer um -, não atribuo qualquer espécie de vontade de revisionismo histórico ou amor pelo antigo regime. Repito, acho que é só ignorância.
Parte do discurso dos novos partidos baseia-se em que é preciso trazer pessoas novas para a política e que as máquinas partidárias só promovem gente pouco qualificada. É em grande parte verdade. Convinha é que apresentassem gente que ao menos soubesse o mínimo dos mínimos da história do seu país.