Em 1997, o relatório Mckinsey Report ”The War for Talent” apresentou os dados de um survey conduzido em 70 prestigiadas organizações dos EUA, abrangendo mais de seis mil dirigentes. Divulgava conclusões alarmantes: a maioria das organizações que reportaram cinco anos de fortes taxas de crescimento no seu volume de negócios considerava que sofria de uma escassez de força de trabalho altamente competente e qualificada.
O panorama não muda em 2015 e em 2020. Dados da CIPD (Chartered Institute of Personnel Development) sugerem que os líderes organizacionais identificam a escassez de pessoas qualificadas como o maior desafio no contexto de recuperação da recessão económica da Europa. Adiciona-se o facto de, neste período de pandemia, a maioria dos programas de atração de talento foram, naturalmente, suspensos pelas organizações.
As organizações devem não só procurar desenvolver pacotes atrativos de remunerações dignas, de incentivos monetários, de condições de trabalho flexíveis e de projetos com significado, mas acima de tudo procurar refletir e conhecer quais os valores do trabalho que esta nova geração de trabalhadores valoriza
Mas como compreender este enorme constrangimento ao desenvolvimento da sustentabilidade e da competitividade das organizações?
O primeiro aspeto a ter em conta é que a disponibilidade de qualificação não reduz a procura. A Europa em geral, e Portugal em particular, tem apresentado um pico de desemprego jovem. Dados de 2021 indicam cerca de 2,8 milhões de jovens, menores de 25 anos, estavam sem trabalho na UE e em Portugal a taxa de desemprego dos menores de 25 anos foi superior à média europeia, situando-se em 22,5%. No entanto, simultaneamente, as organizações indicam um déficit enorme nas suas necessidades de contratação, existindo atualmente na Europa milhões de postos de trabalho por preencher. O motivo? A ausência de trabalhadores com as qualificações desejadas!
Tal significa que estamos perante um enorme gap entre o que as organizações necessitam e o que é a formação dos nossos jovens. Possivelmente agravado pela ainda elevada taxa de desistência dos nossos jovens em completar pelo menos o ensino secundário e o abandono no ensino superior. Enquanto não se atacar este gap com políticas e estratégias alternativas às receitas já implementadas com resultados não satisfatórios, a situação é de um desafio permanente.
As organizações estão em luta e tornam-se agressivas nas suas estratégias de atração do pouco talento disponível. Daí que a busca pelo talento está de volta e veio para ficar, pelo menos, durante as próximas décadas.
Nesta luta, as organizações devem não só procurar desenvolver pacotes atrativos de remunerações dignas, de incentivos monetários, de condições de trabalho flexíveis e de projetos com significado (Painter-Morland e colaboradores, 2019), mas acima de tudo procurar refletir e conhecer quais os valores do trabalho que esta nova geração de trabalhadores valoriza.
Para as novas gerações, o mundo é diferente. Como vários estudos desenvolvidos por alunos finalistas do Mestrado de Psicologia Social e das Organizações do ISPA deixam claro, o conceito de carreira tradicional tende a desaparecer. Para esta nova geração, o que é relevante é o querer gerir a sua própria carreira, de fazer a gestão do seu desenvolvimento profissional (Briscoe e Hall, 2006), sem a obrigação moral de permanecer por “muitos e bons anos” numa única organização e onde a procura de experiências variadas e da mobilidade ocupa um lugar importante (Lazarova e Taylor, 2009). A luta por esta nova geração qualificada passa por oferecer estas perspetivas.
As organizações têm de compreender o que realmente motiva o talento dos jovens de hoje. As organizações não sobreviverão se continuarem a adiar a implementação de práticas que visem o reforço da ligação emocional dos talentos aos valores da organização, à procura do seu bem-estar laboral, do reconhecimento do trabalho desenvolvido e das oportunidades de desenvolvimento profissional e participação no futuro da organização.
A palavra de ordem parece ser: motivá-los enquanto cá estiverem!
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