Este ano não deu para ir festejar os Santos a Lisboa (ainda! O São João que me aguarde). Mas tive direito a uma festa de grande portugalidade, aqui mesmo em Bruxelas. E até acabei numa barraquinha, a vender “natas”.
Por ocasião do dia de Portugal, a comunidade lusa organiza uma grande festa popular num dos parques mais bonitos da cidade – o Bois de la Cambre. E lá fui eu, espreitar o acontecimento e conviver com os meus concidadãos (a festa é um chamariz, passei a tarde a encontrar gente conhecida) e não só.
Antes de ir, porém, ainda incorri num equívoco, próprio de quem não está familiarizado com os hábitos da comunidade local. Sendo a festa destinada a celebrar o 10 de junho, convenci-me que seria no dia respetivo, isto é, no passado sábado. Felizmente avisaram-me in extremis que não, que ao sábado muitas pessoas trabalham, pelo que a festa é sempre no domingo mais próximo. Mudados os planos para o dia seguinte, pus-me então a caminho com alguns amigos. Ao aproximar-nos, o cheiro a sardinha e o refrão “eu sei, eu sei, és a linda portuguesa com quem eu quero casar” não deixavam margem para dúvidas: estava a chegar ao meu país.
Havia música pimba, como em qualquer bom arraial, havia fandango, havia uma cantora no palco que de 5 em 5 minutos tentava arrancar um “ó malhão, malhão” coletivo, mas sobretudo havia muita comida. Chouriço assado, sardinha, entremeada, febras, broa de milho e muita superbock – foi este o nosso menu. E muitas mais iguarias portuguesas por lá havia. O que já não havia era mesas livres, tal a afluência de gente, mas logo se improvisou um espaço de refeição na relva e ali fizemos o nosso piquenique.
Depois do repasto, impunha-se um cafezinho Delta e um pastel de nata. Mas – sacrilégio! – não é que estes já tinham acabado? Uma amiga minha, de serviço na barraquinha dos bolos, prometeu-me enviar um sms quando chegasse a próxima formada. E assim foi. Refastelado com a sobremesa, era chegado o momento de dormir uma sesta. E que bem me soube, à sombra de uma árvore, aquela “power nap”.
Devidamente recomposto, decidi ir dar uma volta e explorar o resto da festa. Cirandei por entre típicas famílias portuguesas em pleno gozo domingueiro, assisti à atuação do rancho folclórico, provei uma fartura e fui novamente visitar a minha amiga na barraquinha dos pastéis de nata. A azáfama era tal que acabei por ali ficar, ajudando a vender pastéis e a fazer trocos. A clientela não parava de chegar, numa torrente contínua de portugueses e estrangeiros, conhecedores e curiosos, todos ávidos por saborear aquela especialidade lusa. E assim voaram, em poucas horas, 1.300 “natas”.
Dei por mim a pensar que a expressão “isto sai que nem pãezinhos quentes” precisa de ser atualizada. Naquela festa, pelo menos, o que tinha mais saída eram os pastéis de nata. Quentes, pois claro. Quentes e bons.
VISTO DE FORA
Dias sem ir a Portugal: 16.
Nas notícias por aqui: o Presidente da Câmara de Bruxelas demitiu-se após a revelação de que recebia um salário de uma organização sem fins lucrativos destinada a apoiar os sem-abrigo.
Sabia que por cá: o Primeiro-Ministro belga perdeu parcialmente a audição em consequência do tiro de pólvora seca disparado pela Princesa Astrid para marcar o início da meia-maratona de Bruxelas.
Um número surpreendente: há tantos gatos como jovens menores de 18 anos em Bruxelas: 27 por cada 100 habitantes.