
Soube em Outubro de 2016 que a minha vida em Calcutá iria chegar ao fim, brevemente. Depois de receber uma proposta profissional, que incluía o facto de ter que me mudar para Nova Deli, a capital da Índia, sabia que a minha história com a cidade de ruas de luzes amarelas e de táxis frenéticos iria terminar. Tive 3 meses de despedidas e “last times”, fui onde tinha de ir e visitei quem queria visitar. Mas pareceu-me impossível e injusto que o tempo passasse tão depressa e que os três meses desde que tomei a decisão de mudar voassem de uma forma tão veloz, sem desculpas ou descontos.

Claro que no dia 17 de dezembro ainda havia coisas para tratar e tinha o meu voo para Portugal na manhã seguinte, para passar o Natal em família… Ou não fosse da Índia que estamos a escrever… Aqui há sempre coisas a fazer, coisas para marcar, assuntos que não ficaram tratados apesar das várias tentativas, e por aí fora…
Depois de bagagens e caixotes despachados para a minha nova morada em Deli, que já estava à minha espera, vários jantares de despedida com todos os que me acolheram em Calcutá, uma despedida de um escritório onde comecei verdadeiramente a minha vida profissional e onde cresci como não poderia ter imaginado, mais uma despedida e outra e outra, depois do último chai no meu ‘street restaurant’ favorito e do último biryani no restaurante Aminia,… estava finalmente pronta para partir.
Não foi fácil na altura, mas não me arrependo.

Calcutá é uma cidade gigante, mas que se torna pequena depois de 2 anos e 9 meses. Eu sabia que teria que ir, mais cedo ou mais tarde, fosse para Deli ou para Portugal ou para outro lugar do mundo. Não esperei que fosse já, mas nunca ninguém espera. E acabou por resultar numa mudança positiva, em vários aspetos.
Depois de umas férias merecidas em Portugal, junto da família e amigos, parti de novo para a nova aventura de 2017, e no dia 4 de Janeiro voltei à Índia com um novo rumo, uma nova empresa, uma nova casa, uma nova cidade, novas pessoas para conhecer, novos negócios para fazer, novos lugares para descobrir.
Deli é gigantesca! E confusa! E poluída! E tem trânsito, muito trânsito! Mas tem um encanto especial, bastante diferente da magia antiga e “estilo Museu’ de Calcutá.

Cheguei dia 5 de Janeiro e desde aí que moro numa casa em Gurgaon, a zona mais profissional e moderna de Deli, onde existem grandes aglomerados de empresas e setores profissionais. Gurgaon é uma cidade pequena, às portas de uma cidade abismal. Entre casa, trabalho e o novo ginásio para ajudar a concretizar as resoluções de ano novo, tenho conseguido encontrar-me com antigos amigos de outras cidades como Calcutá e Mumbai que também estão agora em Deli e que me levam a conhecer os lugares ‘hit’.
Estou aqui há 5 semanas e o tempo está a voar. 24 horas não chegam para Deli e tive que adotar um plano de descoberta a longo prazo, onde vou vendo um bocadinho aqui, um bocadinho ali, quando der, nos intervalos das tarefas necessárias.
O trânsito é tão terrível como se diz, ou pior, principalmente a horas de ponta entre Gurgaon e Deli, sendo que grande parte dos jovens profissionais trabalham em Gurgaon e fazem o mesmo percurso todos os dias devido ao preço das rendas e devido à localização da família. Com o tempo, tenho aprendido a movimentar-me quer de metro quer de táxi, sempre com o objetivo de evitar a pior altura, de forma a não demorar 3 horas a fazer um percurso que demoraria 45 minutos.
O metro é enorme e funciona na perfeição: comboios rápidos e baratos (o máximo que se paga são cerca de 30 rupias – menos de 20 cêntimos por viagem). Cobre as principais zonas da cidade e chega às zonas periféricas como Gurgaon ou Noida. Tem um maior número de estações na zona central e mais velha da cidade e acaba por ser muito conveniente para a grande maioria da população, e uma excelente fuga ao trânsito caótico. Tem comboios para o aeroporto também, o que ajuda a quem viaja bastante.
Aqui há várias opções para qualquer gosto: restaurantes, parques, festas, feiras, eventos, centros comerciais, lojas, marcas internacionais e tudo o que leva ao consumismo, bares e vida noturna, muita malta nova e muitos estrangeiros também. A diversidade não se compara com a que existia em Calcutá e estou a achar isso um aspeto positivo. É mais difícil encontrar alguém ‘só porque sim’, como acontece em todas as grandes cidades do mundo. Deli, citadina e urbana, está cheia de pessoas que apanham táxis a toda a hora e que passam pouco tempo em casa, que dormem pouco, trabalham muito e também se sabem divertir!
Durante cinco semanas de trabalho e de adaptação à nova rotina já consegui ficar doente também. A saúde em Deli chega a ter que ser um assunto mais cuidadoso que em Calcutá devido à forte presença de doenças como Dengue e Malária. Como fui picada por um mosquito no início do mês de fevereiro, obrigatoriamente houve uma montanha de exames a fazer, para saber se algo tinha corrido mal. Não correu e ainda não foi desta!
Após o primeiro mês, acho que fiz uma escolha positiva e que mudei para melhor. Acho que Deli é uma cidade com muito para oferecer e com muito para ser aproveitado. E estou ansiosa para descobrir mais e para saber o que me espera nesta nova fase da minha vida. Sem saber quando volto a Portugal, por enquanto, resta-me dar o meu melhor e uma grande oportunidade à ‘minha’ nova cidade.
VISTO DE FORA:
Dias sem ir a Portugal: 40
Nas notícias por aqui: Gurgaon é considerada a parte mais desenvolvida de Delhi mas também a mais poluída, com níveis de poluição entre os mais altos do país e sem perspectivas de diminuirem.
Sabia que por cá… Nova Delhi tinha catorze portões/entradas principais a volta da cidade. Neste momento, apenas 5 se encontram de pé. Entre eles encontra-se o Kashmiri Gate (virado a norte para o estado de Kashmir), o Ajmeri Gate (que protegia a cidade do estado de Rajasthan), o Lahori Gate (virado para as entradas que vem do Paquistão), o Delhi Gate (mais próximo do centro da cidade) e o Turkman Gate (localizado na parte antiga da cidade).
Um número surpreendente: O metro de Nova Delhi tem 6 linhas, uma extensão total de 193 quilómetros, 145 estacões e transporta cerca de 1,8 milhões de pessoas todos os dias.