– Passeios? Para que é que precisas de passeios?
– Para ir aos sítios – respondi.
– Quais sítios?
– Às lojas, à praia, aos cafés, aos sítios…
– Mas tens carro!
– Mas eu gosto de andar.
– Tipo exercício? Podes ir ao ginásio.
– Quero só andar sem ter de ligar o motor.
(…)
Não soube o que mais lhe responder e fez-se um silêncio entre nós. O Gede, que foi nosso motorista e guia turístico e “salva qualquer situação” durante as primeiras semanas em que ainda nos estávamos a ambientar, ficou pensativo que era como ficava sempre que lhe surgia uma questão nova. Ponderado e culto, só responde depois de alguma reflexão.
– Talvez devas viver em Seminyak, há lá muitos turistas e como eles gostam de passeios tens algumas ruas onde podes andar. Posso te ajudar a procurar casa se quiseres.
Quando se aterra em Bali o primeiro impacto é o do calor sufocante e do ar que de tão húmido se cola a nós. A seguir é o transito nas ruas principais. Filas intermináveis de carros e motas, tantas que formam um corpo compacto que se move por todos os lados e sobe passeios, quando essa é a opção para ultrapassar.
Não fui para a zona dos turistas, só às vezes para ir aos restaurantes ou a lojas de roupa. A rua onde fui parar não tem passeios e depressa passei do carro para a mota, muito mais económica e ágil. Tornou-se tão mais fácil andar de um lado para o outro que num instante nos esquecemos da impossibilidade de vaguear pelas ruas. Compensamos com caminhadas na praia, a destilar com o calor, com idas aos estúdios de yoga pela manhã, ou com exercícios em casa.
Para eles é tão estranho um estrangeiro estar parado na rua que não resistem a abrandar e perguntar o que estamos a fazer.
Certo dia estava parada do lado de fora do meu portão quando uma mota parou ao meu lado a perguntar o que é ali fazia e se precisava de boleia.
Não precisava, quer dizer se calhar até precisava. Estava à espera de um Uber – o quarto de sucessivos cancelamentos da parte deles por causa do trânsito – e a senhora insistiu de tal maneira que me começou a fazer a confusão a confusão que eu lhe estava a fazer. Nesse momento cai outro cancelamento no meu telefone. E assim segui com ela. Onde me iria deixar não era nem a um terço do caminho e era até um desvio que não me facilitava a vida, mas de alguma maneira dar-me boleia tranquilizava-a. Era menos uma estrangeira parada na rua. Seguimos viagem.
Confio nestes impulsos porque também eu ofereço boleias, geralmente a senhoras idosas que esperavam o 28 para subir a Calçada da Estrela, em Lisboa.
Não se pode viver em Bali sem mota, ou carro, ou carro e motorista no caso dos que não conseguem lidar com o transito complexo e com a dificuldade de estacionamento. Não existem transportes públicos. As crianças conduzem motas e levam à pendura outras tantas. Os bebés andam de mota agarrados aos pais, numa visão imprópria para cardíacos. Tudo se transporta de mota e ao fim de alguns meses também arrisquei a alguns transportes mais audazes.
Chegou o dia em que tive de ir abrir uma conta bancária e andei horas à procura de uma morada que afinal estava errada. Três horas mais tarde sem conseguirmos encontrar a sucursal, que já estaria de qualquer maneira na hora do fechar, o táxi (felizmente muito mais barato do que em Portugal) deixou-me num warung para um almoço tardio. No dia seguinte consegui a morada certa do banco e quando finalmente lá cheguei, tinha levado o passaporte da minha filha e não o meu.
Tudo somado esta tentativa de abrir uma conta já levava seis horas sem qualquer progresso e muito desespero. Mas estamos em Bali, a terra onde o que parece impossível se resolve e a incrível funcionária, que agora é a minha gerente de conta, levou-me de motorista até casa para confirmar o meu passaporte e terminarmos de preencher os papeis. Nem queria acreditar na minha sorte. Atenção que não é uma conta milionária é uma conta normal, mas este era um “problema” com solução. Nesta ilha não há transportes públicos, mas há boa vontade e sempre alguém que nos transporta. E os passeios, eles vão chegar.
VISTO DE FORA
Dias sem ir a Portugal: Não vou a Portugal há 30 dias
Nas notícias por aqui: um jovem estudante australiano foi preso esta semana sob suspeita de posse de droga. Um processo que tem todos os ingredientes para ser bastante complicado.
Também um outro Australiano esteve desaparecido de 1 da 17 de Novembro. A família desesperada sem noticias durante quase três semanas. Nas redes sociais multiplicaram-se partilhas num esforço para o encontrar o homem que alegadamente desapareceu a seguir a um encontro com uma mulher do Tinder. Foi encontrado por acaso por um turista Americano a tocar bongos numa praia na Tailândia. Primeiro foi um alivio, a seguir tornou-se numa paródia.
Sabia que por cá: nunca faz frio. Melhor, está sempre muito calor. Não vale a pensa trazer nem um casaquinho de malha para a noite. Se quiser fazer alguma subida ao Mount Batur, aí sim, vale a pena um bom agasalho.
Um número surpreendente: o Jovem australiano que acabou de ser preso, com uma quantidade considerada para consumo, arrisca uma pena de prisão até 12 anos e uma multa de $900,00. Drogas na Indonésia: que nem vos passe pela cabeça.