A Maria Leal está aqui, só para ti…a ter espasmos em directo. O Sócrates pagava para falarem bem dele (o que não é nada má ideia). Os taxistas perderam a cabeça. O Pinto da Costa vai separar-se, outra vez. E parece que o Pedro Dias anda a monte há algum tempo e não há forma de o apanharem. São estas as notícias que leio quando vou aos sites nacionais. Está tudo bem desse lado? Precisam de alguma coisa?
Todas as ocorrências do parágrafo acima são conhecidas de quem vive ou viveu em Portugal, ou quem pelo menos anda minimamente informado, seja de que maneira for. Há uma cultura que vai para além de saber falar e ler português, ouvir fado, ler Pessoa. Saber que o Outono, no Algarve, tem dias que parecem roubados ao Verão e reconhecer que um arroz de marisco, aquele que só nós conseguimos fazer, não tem comparação com mais nenhum prato. Há uma Cultura, com C grande, que está entranhada em nós. De saber o que é o Pimba – no caso da Maria Leal – e ter estado em algumas festas da terrinha, com um palco improvisado e colunas que não tinham outra função que a de distorcer o som ao ponto deste estar inaudível. De ter apanhado uma decepção com Sócrates, que prometia tanto em 2005 e que depois…foi o que se viu. De saber de futebol e de livros escritos por ex-mulheres de dirigentes de um certo clube, ou o significado da palavra fogareiro. Muito mais do que nomes, conhecemos a história por detrás deles.
Isto tudo para dizer que quem vive fora ainda tem esta Cultura em si. Um mundo de conhecimento que vem de anos de conversas, de leituras. De saber o que é a expressão “empurrar com a barriga”, que julgo não existir em mais nenhum lado, ou a minha preferida “andar a comer gelados com a testa”, que já tentei explicar o significado, mas sem grande sucesso. Podia juntar as horas infindáveis que o tema era Benfica com antigos colegas, almoço sim, almoço sim. Ou as muitas vezes que algum episódio dominou as notícias até à exaustão. Temos toda esta história em nós e facilmente associamos ao passado algum tema da actualidade.
Pois quando se está noutro país não há nada disso. Os costumes são estranhos porque não são nossos. As comidas e realidades não nos fazem sentido. E imagino que as notícias, se as conseguíssemos ler, não nos diriam grande coisa. Infelizmente estão todas em holandês, quer nos sites ou noticiários, e por isso até podiam estar em chinês, que seria o mesmo. Não nos interessam muito. Mais facilmente existe empatia com um aumento de impostos em Portugal ou uma manifestação que fez a A5 parar por cinco horas, do que saber quem está a apresentar um programa na televisão holandesa. Não são os nossos actores, não lhes conhecemos a cara. E para ser sincero, até há um desinteresse em saber o que se passa. E não vem de desleixo, mas de um sentimento de que “não é nada connosco”. Afinal de contas, não somos holandeses, apenas vivemos aqui.
Visto de fora
Dias sem ir a Portugal: 65
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Sabia que por cá… Só existem 8 moinhos de vento em Amsterdão
Um número surpreendente: 58% da população comuta de bicicleta