1 – Agora é oficial: 2017 foi o segundo ano mais quente do planeta Terra, desde que existem registos. Sabe qual foi o mais quente de todos? O anterior, 2016, por influência do El Niño, um fenómeno climático cada vez mais recorrente e que faz aumentar as temperaturas no oceano Pacífico. Ah, e o terceiro mais quente foi o de 2015, dizem as medições da Organização Meteorológica Mundial. Contas feitas, não restam dúvidas: os últimos três anos foram, de forma consecutiva, os três anos com as temperaturas médias mais elevadas na Terra, desde que se iniciaram estes registos, em 1880, confirmando um padrão contínuo de aquecimento global. Se alguém ainda está com dúvidas de que o nosso clima está mesmo a mudar, atente em mais um dado: os cinco anos mais quentes de sempre foram registados nos últimos oito anos.
Já sabíamos, desde há um ano, que os cenários catastróficos que estes dados indiciam para o futuro – e que já começamos a experimentar, no ano passado, de forma trágica – não fazem parte das preocupações do inquilino da Casa Branca. No entanto, o mais preocupante é que Donald Trump está cada vez menos sozinho na postura negacionista das alterações climáticas. E até na Europa se começa a levantar o pé do acelerador dos esforços para tentar reduzir, o mais depressa possível, a emissão de gases com efeito de estufa. O último sinal foi dado pela Alemanha, onde o acordo de coligação negociado entre Angela Merkel e Martin Schulz abandona o objetivo de diminuir essas emissões em 40% até ao ano 2020. O motivo: a ainda grande dependência das centrais a carvão, fundamentais para alimentar a forte indústria do país.
2 – Com o mundo em aquecimento acelerado, não é de estranhar que os principais líderes da economia mundial se reúnam numa montanha isolada, que este ano sofre a maior tempestade de neve das últimas duas décadas. Não se podia encontrar metáfora melhor, de facto, quando a abertura da chamada Cimeira Económica Mundial coincide, como habitualmente, com a divulgação do relatório anual da Oxfam, que revela como 82% da riqueza mundial está nas mãos do 1% de pessoas mais ricas do planeta – grande parte das quais estão em Davos, claro, no recanto frio de um mundo em sobreaquecimento. Uma certeza existe: serão os mais pobres as maiores vítimas do aquecimento global. E serão os mais ricos os principais beneficiados com a não adoção rápida de medidas para combater as emissões de gases com efeito de estufa.
3 – O primeiro episódio de uma espécie de reality show, que expõe crianças em situações que deviam ser apenas do foro privado, foi visto por uma audiência de cerca de 1,4 milhões de espectadores. Após uma semana em que se multiplicaram os protestos, foram entregues mais de duas dezenas de queixas junto da Comissão Nacional de Promoção dos Direitos e Proteção das Crianças e Jovens, e o coro de indignações varreu quase todas as ordens profissionais que poderiam estar relacionadas com o tema do programa, o segundo episódio teve ainda mais espectadores a assistir. Já vimos esse efeito acontecer muitas vezes, e é em tudo semelhante ao dos automobilistas que abrandam para ver o acidente do outro lado da autoestrada. Muitas pessoas, sabemo-lo, têm uma curiosidade mórbida pelas situações mais trágicas, dramáticas e infelizes. Faz parte da natureza humana, afiançam alguns cientistas. Não devia, no entanto, fazer parte da natureza e da prática de um órgão de comunicação social cujo prestígio foi construído numa base de respeito ético pelas pessoas.
(Editorial da VISÃO 1299, de 25 de janeiro de 2018)