Agora que a ansiedade sobre a carreira da nossa seleção terminou, outras, menos apaixonantes mas igualmente angustiantes, estão a ocupar-nos. Não são poucas e nem as sei alinhar por ordem de importância, que cada um tem as suas apreensões e a escolha do ansiolítico também deve influenciar na seriação.
Atentados – Não se está tranquilo, seja onde for. Já lá vai o tempo em que o tubarão de Spielberg era o único receio dos banhistas, mesmo nos mares onde nunca tinham sido vistos. Depois vieram os arrastões no Brasil e, mais tarde, o falso ataque na linha do Estoril. Agora, ninguém sabe onde se pode estar. Onde há muita gente pode haver perigo e a convicção generalizada é que não é na Europa que o problema se combate. Em Nice, o camionista, ao que parece, passou as barreiras de segurança porque dizia que levava gelados. A imaginação pérfida, essa, parece não ter barreiras e impõem-nos a coragem de conseguirmos continuar a viver ao nosso estilo, recusando dar a vitória aos nossos inimigos, andando colados ao medo.
Turquia de Erdogan – O senhor não é flor que se cheire e a grande dúvida é saber se os que montaram a revolta eram melhores ou piores. Ilegítimos eram, que o Presidente foi eleito nas urnas e mandam as regras que só pelas urnas saia. Mas o que ele está a fazer nestes dias de pós-golpe deixa qualquer democrata sem sono: a prender não só quem tentou o golpe mas também aqueles de quem não gosta. Um país fundamental para a segurança europeia anda em bolandas, entre golpistas inexplicavelmente inaptos e um Presidente inaceitavelmente autoritário e concentracionário. Os milhares de magistrados, militares, jornalistas e demais cidadãos, que foram presos ou afastados nas primeiras horas, certamente não fizeram todos parte da sublevação armada.
Brexit – Quantos exits vão suceder-se? Quantos Estados vão retalhar-se? O do Reino Unido vai mesmo concretizar-se? Se sim, quanto vai custar à Europa e ao Mundo? Inglaterra ficará governável?
Sanções – Já é conversa a mais sobre castigo-sim, castigo-não. Se o que os eurocratas querem é impor maneiras a dois países malcomportados, decidam-se. Ninguém educa ninguém assim. O que é óbvio é que, com ameaça para lá e esperança de que nada aconteça para cá, tudo vai sendo adiado. Quem investe sem saber que a austeridade pode voltar em força? As garantias e sorrisos do otimista António Costa não fazem esquecer o rosto austero e ameaçador de Wolfgang Schäuble. Continuemos ansiosos, portanto.
Donald Trump – Só não é o grande perigo porque não se acredita que possa ganhar. Se o contrário acontecer, as ações dos laboratórios farmacêuticos vão disparar. Não é possível que ele e o seu vice Mike Pence, que dizem ser pior do que o original, possam vencer. Não pode acontecer, ponto.
Caixa Geral de Depósitos – Este não é um problema de somenos. Tem contornos que tiram a tranquilidade a qualquer um. Primeiro é a necessidade de reforço de capital – quatro a cinco mil milhões – , depois é o estado a que a instituição chegou sem que os nossos governantes nos tivessem dito uma palavra, segue-se a incapacidade de substituir uma equipa por dificuldade em compor outra e, finalmente, é uma carta de há um mês – revelada por um analista político, o que mostra bem como a informação circula em meios fechados e que há uma total incapacidade de os jornalistas os quebrarem – que vem mostrar que nem no seu banco público Portugal manda verdadeiramente. Será normal e aceitável que o financiador queira garantias? Talvez, mas porque não têm os governos a humildade de dizer que pouco podem fazer face ao centro da Europa? Quando quem decide não está sujeito a votos, a angústia aumenta.
Tribunal Constitucional – Fica para o fim a inquietação que não valerá, pelos menos para já, mais de meio comprimido de um ansiolítico ligeiro: a “discriminação” de que o PCP considera ter sido alvo na escolha (em que não foi ouvido) de juízes para o Tribunal Constitucional. Jerónimo de Sousa disse-o no domingo na Foz do Arelho, depois de na véspera, na ilha do Faial, ter falado em “atitude pouco séria e pouco leal”. O secretário-geral do PCP aproveitou para recordar que a aprovação do Orçamento do Estado de 2017 vai ter que se lhe diga. Deixou a geringonça mais instável – que, se causa insónias a uns, deixa outros numa agitação tal que lhes tira o sono. Inseguros, de qualquer forma…
Já tivemos melhores férias