Duas grandes discussões (além dos incêndios florestais e do escaldão que o Benfica apanhou no Algarve) animam este início de semana: os números do desemprego ainda sob polémica, agora reavivada pela controvérsia em volta dos cartazes socialistas, e as especulações em torno dos possíveis candidatos presidenciais, acicatadas pela notícia, não confirmada pela própria mas perfeitamente plausível, de que Maria de Belém será candidata.
Vêm aí eleições de extrema importância: as legislativas, para a gestão de um País em crise (uma crise cuja dimensão parece depender mais da análise que cada um faz do que da realidade do dia a dia); e umas presidenciais que vão escolher o protagonista que muito mais do que provavelmente vai ter de arbitrar os interesses de vários partidos que não falam a mesma língua nem vivem no mesmo país, tão longe andam os discursos, e que não conseguem consensos sobre questões centrais como a natalidade, a Justiça, as Finanças, a Europa. Em estado de negação, PS e PSD também não querem falar de presidenciais.
Percebe-se: escolham quem escolherem Nóvoa, Belém ou Neto; Rio, Marcelo ou Santana vão dividir o eleitorado para as legislativas. Compreende-se. Mas desenganem-se: é disso que se vai falar por muito tempo, principalmente em tempo de férias quando há mais oportunidade para conversar e espaço para escrever sobre temas que não têm a ver com o quotidiano.
António Costa bate o pé e não abre o jogo. Apesar de meio mundo acreditar que Sampaio da Nóvoa só avançou com o apoio, pelo menos, implícito do secretário-geral do PS, este continua com evasivas (embora, como se vê na entrevista que publicamos nesta edição, dê inteira cobertura a uma candidatura que venha do exterior do seu partido). O resultado é que o movimento pró-Maria de Belém está no terreno e cresce nas elites.
Passos não faz diferente. Apesar de qualquer casa de apostas saber que o seu favorito é o homem do Norte, o presidente dos sociais-democratas adia uma declaração.
Aeleição presidencial não será, de momento, a maior das preocupações do eleitorado. Mas é uma das questões fundamentais que se põem aos aparelhos partidários, aos protagonistas, aos influentes agentes económicos, aos comentadores.
E por via destes entram no dia a dia do País. Queiram ou não os líderes partidários. Desenganem-se se pensam que mandam, que controlam, como noutros tempos se impuseram Cavaco e Soares.
Passos e Costa, adiando o inevitável, vão dando espaço a quem não gostam, a quem não quereriam. Não aceitam discutir o que nos vão propor, andam à volta da questão e assim abrem caminho a alternativas. Não foi por acaso que os candidatos que precisaram de se impor e travar adversários (o melhor exemplo foi Jorge Sampaio) se fizeram anunciar com grande antecedência.
Este adiar de respostas não é muito diferente do que se passa na campanha das legislativas. O que vão fazer, como o vão fazer e porque o vão fazer se chegarem ao Governo é assunto tabu. Traçam retratos do País, cada um desenha cenários de sonho ou apocalípticos e pinta-os com a sua palete de cores. Como se não soubéssemos como esteve e está o País.
O resultado são os números contraditórios sobre o desemprego e as leituras divergentes sobre o possível do alívio da sobretaxa do IRS e as consequentes e insignificantes acusações de “faltas à verdade”.
O expoente máximo da criatividade sobre o estado de Portugal foi dado pelos cartazes onde PS e PSD expuseram como sendo reais personagens que sabiam ser fictícias.
Mas não é isso que os publicitários fazem tanto nos detergentes para a roupa como com os perfumes de luxo? Quando não há conteúdo a dar à mensagem é este o risco que se corre.
O episódio podia ser lateral. Mas não vai ser, principalmente para o PS que foi mais longe na tentativa de acentuar o sofrimento.
Afinal, quem promete trazer “tempo de confiança” não pode começar assim.
Empataram na desfaçatez.
E o problema é esse. De nada serve dizer que “agora Portugal pode mais” mesmo que os rostos sorridentes que acompanham a frase nos cartazes fossem de pessoas que acreditam no slogan, como não é suficiente relatar dramas que todos conhecemos ainda que fossem daquelas histórias os rostos abatidos usados para as ilustrar. Há um provérbio chinês: “O homem medíocre discute pessoas, o comum discute factos, o sábio discute ideias”.
Façam política. Não vão a reboque como pode acontecer nas presidenciais. Escolham e assumam. Como vamos encarar o desemprego quando há quem diga que, no prazo de 20 anos, a tecnologia vai fazer desaparecer 60% dos atuais empregos? Que Europa queremos: avançamos para federalismo, ficamos a ver o que dá ou recuamos? Que política para os refugiados? Como combater os custos crescentes da Saúde? Principalmente: como recuperar o prestígio da classe política? Esta é, cada vez mais, uma questão central.