Proponho um teste à memória, capacidade de atenção, resistência, perspicácia, confiança, interesse, seja o que for. O tema é o desemprego. O exercício compõe-se de frases para fixar. Ei-las: “Em quatro anos, Portugal conseguiu recuperar 175 mil empregos”, diz a coligação PSD/PP; “o Governo destruiu 320 mil postos de trabalho em toda a legislatura” e foram apenas 120 mil os postos de trabalho criados desde 2013, “dos quais 80 mil são contratos de emprego e inserção “, afirma o deputado socialista João Galamba; segundo a CGTP, “desapareceram 298 mil postos de trabalho e temos mais 38 mil desempregados oficiais e uma subida da taxa de desemprego e do desemprego de longa duração”.
Leitor, ainda aí está? Então cá vai mais uma citação, esta de Passos Coelho na SIC: “Enquanto o PS foi Governo, a taxa de desemprego passou de 7,55% para 12,1%, menos 236 mil empregos.” Só mais uma informação: a taxa de desemprego já esteve em 17,9% e atualmente está em 13 por cento.
E agora as perguntas: alguém fixou um número? Cento e tal mil postos de trabalho criados é muito ou pouco? E duzentos mil perdidos, foi desperdício ou inevitabilidade? A questão não é de contabilidade.
É de sensibilidade.
Dizemos que o desemprego é um problema grave não por causa das estatísticas mas porque todos temos um familiar (ou mais) sem emprego, um vizinho (ou mais) sem esperança de voltar a trabalhar; porque todos conhecemos um jovem (ou mais) que ainda não conseguiu o primeiro emprego; porque todos sabemos de um recém-licenciado (ou mais) que trabalha dez horas por dia e ganha cinco centenas de euros (ou menos) por mês.
Sabemos que estamos mal de empregos porque todos conhecemos portugueses que emigraram e estrangeiros que estavam por cá e entretanto regressaram às suas terras. Os dados da ONU, que dizem que 20% da população portuguesa está no estrangeiro, impressionam menos que os dramas reais que bem conhecemos de famílias da nossa rua separadas pela necessidade de partir.
Serve tudo isto para dizer o quê? Que os balanços contam pouco quando a emoção surge. E que mais do que exercícios contabilísticos, o necessário são propostas para ultrapassar o problema. Não restam dúvidas que o País encolheu e nele já não cabem tantos quantos cá viveram. A questão é perceber quem tem ideias e quem assume como objetivo prioritário voltar a dar-lhe dimensão.
Esqueçam os números; venham as propostas.