No mundo desportivo de alta competição já há muito se percebeu que os melhores resultados não nascem através das cargas máximas nos treinos, nem do treinar sem parar.
Pelo contrário, a alta performance só surge quando se treina de forma inteligente, se fazem cargas sustentáveis, se come adequadamente, se dorme muito e se descansa entre treinos e antes das competições para, chegado o dia da prova, se atingir o potencial máximo. Aliás, os campeões não se notabilizam por treinar mais horas que os demais, antes por treinarem melhor e ter havido uma adequação sábia entre as suas aptidões inatas e as disciplinas desportivas escolhidas.
No mundo organizacional, infelizmente, este conhecimento ainda é raro. Ainda se acredita que para se atingirem os objetivos organizacionais, e se vencer a concorrência, é preciso trabalhar muito e descansar pouco, priorizando o trabalho acima das outras esferas da vida.
Com esta metodologia, apesar de se irem conseguindo atingir objectivos, há enormes custos humanos: burnout, rupturas familiares, absentismo e demissões. Ou seja, não estamos a ser eficientes, nem economicamente nem em termos da felicidade!
Na verdade, as organizações devem olhar para a evidência científica e fazer os devidos ajustes. A máxima performance organizacional vai ser obtida quando os recursos humanos não estiverem esgotados nem desmotivados. Quando a rotatividade for baixa. Quando o absentismo for residual. Quando a satisfação laboral for grande. E quando quem tiver maiores responsabilidades na organização estiver nas melhores condições para cumprir o seu papel: seja para tomar decisões importantes ou para fazer uso das suas capacidades criativas, analíticas e de foco. Essas pessoas precisam de ter, rotineiramente, noites bem dormidas, para recuperar corpo e mente, tempo de lazer, para fomentar a criatividade, e tempo de descanso, para desanuviar o stress das suas funções. Desgraçadamente, abundam os exemplos de práticas nos antípodas do que devia acontecer. Basta pensarmos nos gestores de topo, em directores de departamentos, em médicos e enfermeiros ou nos governantes (para nomear os mais óbvios). Tudo profissionais com privação crónica de sono, com stress constante e quase sem tempo de lazer e de descanso. O resultado é duplamente subótimo: porque se esgotam os indivíduos e porque operam em contínuo sub-rendimento.
Se queremos apostar na eficiência sustentável temos que perceber que a mente, tal como os campos agrícolas, também precisa de pousio e rejeitar as ideias peregrinas de que o sucesso se alcança quando pomos as equipas a trabalhar 80 horas por semana…
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