Comecei a ocupar esta página quinzenalmente, em outubro de 2015. Bastou o surpreendente convite da Mafalda Anjos para um sim imediato e, a partir desse dia, tenho vivido no prisma, encerrada atrás da lente aumentativa, como quem passa permanentemente o mundo a pente fino (de olhos cirúrgicos e bloco de notas em punho) à procura do TEMA. Escrevi sobre tudo, tentando misturar registos mais confessionais com alguma filosofia da vida quotidiana, alguns olhares pessoais sobre a atualidade e muito do que é o meu universo de referência (humano, afetivo, cultural e ascético).
Falei sobre o mar, sobre os meus avós, sobre a escrita, sobre gelados e estâncias de veraneio, sobre os meus amigos, os filhos dos meus amigos e os amigos dos meus pais, sobre a ecologia, sobre a morte, sobre o trabalho e sobre as férias, sobre pessoas próximas e pessoas inalcançáveis e, nos últimos três anos, (muito) sobre a maternidade. Foi nesta página que documentei a minha matrescência. Foi desta página que fiz o meu diário de confinamento e que fui digerindo, mês após mês, toda esta experiência distópica da pandemia. É uma destas páginas que está emoldurada e pendurada na parede em casa dos meus pais. É uma destas páginas que está afixada na entrada do Restaurante Manjar do Marquês (honra de grande monta para quem é filha do meu pai). E foi nesta página que nasceram algumas das minhas canções e algumas letras para outros cantarem.