Andávamos há quase uma década a sobreviver à base de taxas de juro para crédito habitação em tendência de descida, a já bem conhecida Euribor registou mínimos históricos e apresentou algo nunca visto, juros negativos.
Ora esta história a que nos habituámos durante estes últimos anos, só podia ter um final: o final de uma morte anunciada que já se estava a adivinhar.
Para pessoas que já tinham incutido esta ideia de eternas taxas de tendência decrescente no seu subconsciente, apesar de analistas financeiros e economistas avisarem de forma constante que esta situação era insustentável depois de uma crise pandémica que contagiou a economia mundial – ou seja, as taxas não poderiam continuar a seguir este caminho – muitas pessoas fizeram ouvidos de mercador. E não foram só as pessoas: os bancos que vendiam taxa fixa que permite tornar a prestação da casa invariável no tempo com o objetivo de defender o seu cliente de uma previsível subida da Euribor, optaram por continuar a viver uma expetativa demasiado otimista e de curto prazo que foi influenciada pela crença de que depois da Covid era ainda impossível subir taxas de juro.
O facto é que ,depois de dois anos de pandemia e taxas negativas, surge uma outra variável: a guerra, ou na minha opinião, a desculpa da guerra que fez a inflação a subir em flecha sem aparente alternativa.
A Euribor que se esperava intacta começou a subir e a subir bastante mudando já neste mês de junho as prestações e a vida de milhares de portugueses que viram em média subir cerca de 50 euros por cada 100 mil euros de empréstimo. Pior, a tendência não parece querer ficar por aqui e algo que parecia uma história de ficção é agora uma realidade que se apresenta como tendência de nova subida pelo menos até ao final do ano. E agora?
Alguns coachs de inteligência emocional costumam dizer sabiamente: foca-te no que controlas e não naquilo que não consegues controlar, por isso deixo aqui não como coach que sou, mas como pessoa especialista em mediação imobiliária e também detentor de créditos à habitação de taxa variável, os meus conselhos para ajudar no que podemos fazer para nos anteciparmos ao problema:
- Respire, verifique bem o seu orçamento familiar e elimine tudo o que é supérfluo. Ajuda se tiver um excel com tudo listado (ganhos e custos);
- Sem medos, solicite junto do seu banco uma simulação de mudança do seu financiamento para taxa fixa, e avalie os custos inerentes associados a compromissos de fidelização;
- Solicite também a outros bancos uma simulação de financiamento com vista a uma eventual transferência do seu financiamento para outro mais competitivo onde o spread pode ser melhorado para atenuar o impacto da taxa de juro;
- Fale com o seu agente imobiliário, como profissional e especialista na zona do seu imóvel, pode dar-lhe um parecer sobre o potencial e valor de venda que poderá aproveitar até ao final do ano;
- Peça também ao seu agente imobiliário, ou a outro especialista de uma zona que considera como alternativa para viver, uma estimativa de produto disponível para compra ou arrendamento;
- Análise várias opções considerando um eventual downgrade na sua habitação, ou seja, passar para uma casa mais pequena ou mais barata.
Por isso, se as taxas de juro continuarem a subir… não se assuste, prepare-se porque não é nenhum drama, nem nada que já não tenha acontecido e se o passado nos ensinou alguma coisa é de facto que, não devemos enfiar a cabeça na areia…
A capacidade de analisar tudo antes e com tempo vai ser muito vantajoso, quem melhor souber como se adaptar, ou quem se preparou antes, é quem sobreviverá sem grandes mudanças caso se verifique que estamos realmente na iminência de uma verdadeira tempestade financeira e imobiliária.
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.