Envelhecer é um processo natural e deve ser considerado um fenómeno biológico e inevitável e
com os avanços da medicina e do investimento na saúde pública, na última década do século 20, houve e continua a haver um aumento substancial da esperança média de vida. Em Portugal, a esperança média de vida até 1960 era de 64 anos e em 2015 aumentou para 81 anos. Durante a segunda metade do século 20, este aumento da população mais velha e o aumento da esperança média de vida teve um grande impacto na prestação de cuidados de saúde geral e oral.
Na realidade a “idade não perdoa” uma vez que o envelhecimento acarreta muitas alterações orais que podem por consequência prejudicar gravemente a qualidade de vida dos mais velhos e até agravar algumas patologias existentes.
Para chegarmos a um bom nível de saúde é necessário conhecer alguns aspetos sobre o envelhecimento, particularmente aspetos clínicos. A presença de doenças sistémicas não só influenciam as capacidades físicas do paciente para manter uma boa higiene oral, mas também está relacionada com a existência de doenças orais incapacitantes.
As pessoas de 64 a 74 anos são consideradas “jovens idosos” porque são uma população que ainda se mantém relativamente ativa. Já as pessoas de 75 a 84 anos podem variar muito de pessoas saudáveis/ ativas para as que apresentam uma série de doenças crónicas. Finalmente as pessoas com mais de 85 anos tendem a estar fisicamente muito vulneráveis e, ao que tudo indica, a população deste grupo tende a maior ao longo dos anos.
A nutrição é um fator vital na promoção da saúde e bem estar da população mais velha. Uma nutrição inadequada pode contribuir para que a degeneração física e mental seja mais rápida. Facilmente se percebe que a saúde oral deficiente contribui para maus hábitos alimentares nos idosos. Dores de dentes, dentes a abanar ou próteses mal ajustadas irão provocar falta de apetite, uma mastigação dos alimentos inadequada e dificuldade em apreender corretamente o sabor dos alimentos. Por consequência, um estado nutricional comprometido que pode enfraquecer ainda mais a integridade da cavidade oral uma vez que estão inter-ligados já para não falar na carga psicologia negativa que estas problemáticas trazem, tornando o idoso isolado e com forte motivação para deprimir.
O nivel de exercício fisico nos idosos é baixo e associado à diminuição de apetite e ingestão de alimentos resulta um consumo insuficiente de nutrientes, nomeadamente, de cálcio, ferro e zinco principalmente nas mulheres. De salientar que, existe um determinado número de idosos que passam a maior parte do seu tempo em casa e pouco tempo expostos à luz solar, resultando em níveis insuficientes de vitamina D. Neste aspeto a medicina dentária tem um papel fundamental na prevenção da má nutrição, embora a eficiência da mastigação e o estado nutricional melhorem quando se executam tratamentos dentários, seja com próteses parciais ou completas, que resolvem situações de falta de dentes. A mastigação é invariavelmente menos eficiente do que com a dentição natural.
É muito comum os idosos apresentarem queixas de boca seca resultado de alterações das glândulas salivares e de secreção salivar, que diminuem com o envelhecimento e também consequência de próteses muito extensas e mal adaptadas. Outra patologia oral bastante presente nos idosos são as cáries profundas, resultado de um declínio na função de barreira protetora da mucosa oral que apresenta um mecanismo de “autolimpeza”.
São também consequência da utilização de próteses esqueléticas com apoio através de ganchos em alguns dentes cujo idoso ainda possua, particularmente devido à fraca higiene oral e a todas estas defesas se encontrarem diminuídas. As alterações macroscópicas que ocorrem, com o avançar da idade, nos dentes devido ao desgaste alteram fortemente a forma do dente uma vez que a sua superfície fica com uma aparência mais plana e com menos detalhes. É observada também uma alteração na cor ao reflexo de luz uma vez que o aumento da pigmentação do dente confere cada vez menos transparências.
As doenças periodontais estão entre as condições crónicas mais prevalecentes na população mais velha. Ocorrem após, em idade adulta, aparecer uma periodontite crónica que com a idade tende a piorar commumente interligado com todas as ocorrências que anteriormente referi. As doenças periodontais traduzem-se na perda total ou parcial dos dentes naturais ao longo do tempo porque os tecidos periodontais ficam expostos à placa bacteriana difícil de higienizar e portanto desenvolvendo novas doenças orais como cáries e infecções.
Para finalizar e concluir, uma vez que mais de 50% da população mais velha é “desdentada”, todos nós dentistas devemos ter em consideração um bom planeamento do tratamento dentário, personalizado e específico à pessoa que temos à frente considerando o seu historial clinico geral e dentário. A prioridade máxima nesta população é fornecer um tratamento confortável e que aumente a qualidade de vida evitando que se isole e tentando diminuir a ansiedade da ida ao dentista que nesta “tenra” idade é tão comum.