Foi essencialmente do que se falou no Vê Portugal, o 4º Fórum de Turismo Interno organizado pelo Turismo Centro. Numa das apresentações do último dia, Carlos Martins, o homem que deu vida à cidade de Guimarães e a levou a Capital Europeia da Cultura, em 2012, abriu o painel da manhã, com poucas horas de sono, como o próprio confessou, mas com uma apresentação simples e eficaz. Na verdade as conversas pela madrugada fora do dia anterior, com os vários agentes do sector, inspiraram a abordagem que fez no Teatro José Lúcio da Silva, em Leiria. Eu diria que a falta de descanso não lhe roubou a energia e criatividade para falar da importância das indústrias criativas na gestão de um destino turístico. Um simples power point de fundo branco com conteúdo disruptivo foi suficiente para prender a atenção da assistência. O que tinha escrito? “Bolos de aniversário, turistas millennials e as capitais da cultura – A economia está a mudar”.
A partir daqui foi explicar como têm mudado as economias (da agrária, passando pela industrial e dos serviços até à economia da experiência) usando uma ideia: o valor de um bolo de aniversário. Tão simples quando se pensa quanto pagaria a nossa avó por um bolo que ela produzia com os seus próprios ingredientes, a nossa mãe que já compraria alguns para o fazer em casa, e nós próprios que, seguramente, o iriamos comprar à pastelaria. Poderia ir dos 50 cêntimos aos 25 euros mas, o que é interessante pensar, é que estamos dispostos a pagar 250 euros para associar a esse simples bolo, uma experiência. Não é isso que é uma festa de aniversário? E não é disso que se fala hoje em tudo o que nos rodeia?
Esta ideia pode reproduzir-se em muitas outras situações, atividades e áreas de negócio. Daí que se diga que a criatividade seja o motor da economia. E a nova economia está a virar do avesso os modelos económicos, culturais e políticos tradicionais. Hoje é o conhecimento que conta e são os conteúdos digitais e a partilha que fazem mexer tudo o resto. Já não é só a qualidade do produto.
Vivemos numa economia de experiências e não de serviços, sendo aqui que a indústria do turismo se deve focar. As cidades, por exemplo, procuram diferenciar-se, ser mais atrativas, regenerar os centros urbanos e criar riqueza usando o talento e a criatividade. Os territórios voltam-se para os seus recursos endógenos, para as suas histórias e para a sua energia criativa. E o que tem isto a ver com turismo? Tem tudo porque os turistas de hoje viajam mais, experienciam mais, querem ter mais conhecimento. Diz Carlos Martins que a necessidade humana de viajar se converteu numa atividade tão essencial como a alimentação, a habitação, a saúde ou os transportes. E é isto que liga as 3 referências do título. O que o novo turista quer são experiências.
Aqui surgem as grandes oportunidades para os locais, sejam cidades, territórios ou países. Os millennials querem participar nos eventos para não se sentirem excluídos e para fazer scroll no facebook, twitter ou instagram. Daí que as experiências estejam a ser o foco central das estratégias no sector do turismo. O que as marcas dizem, o que fazem e o que fazem sentir é a percepção que geram ao consumidor. Tal como a festa de aniversário e o bolo, já não basta ter os melhores ingredientes, tenho de ter a melhor experiência associada.
Seja com bolos de aniversário, com visitas a cidades ou territórios ou com qualquer outra área, seja ou não de cariz cultural, o que é certo é que as experiências geram emoções e as emoções levam a criar sentimentos que, por sua vez, nos fazem optar por uma marca em detrimento de outra no momento crítico de decisão de compra. Caso para dizer que não é por acaso que as marcas se tornam parte da nossa vida… quando nos tocam o coração, ficam para sempre. E nem precisam de juntar muito açúcar à receita… são doces pelo que oferecem.
P.S. Falámos pouco das Capitais Europeias da Cultura, e aqui também teríamos de elaborar um outro artigo só para o tema, mas o que importa é que a cidade que nos acolheu neste fórum, Leiria, vai ser candidata em 2027. Com tempo se prepara a festa…