Estas coisas evoluem tão depressa que somos surpreendidos com ferramentas que usamos todos os dias. Normalmente escrevo no Google Docs como estou a fazer agora. Tem a vantagem de os textos estarem sempre disponíveis esteja eu onde estiver. Posso corrigir, acrescentar, emendar, enviar, partilhar com outros para trabalho em conjunto, todas as vantagens da chamada nuvem.
Isto acontece esteja eu a usar um computador com Windows como no trabalho ou um telefone Android ou um iPhone, qualquer que seja a plataforma posso continuar a trabalhar. Posso até trabalhar num avião, por exemplo, fora da rede, e continuar depois, sincronizando com o que já estava feito quando voltar a ter Internet.
Com muita frequência, no caso mais que uma vez por semana tenho que passar entrevistas gravadas a texto, uma das coisas mais chatas que faz parte do trabalho mas é um passo necessário. De vez em quando experimento um dos sistemas que permitem fazer isto automaticamente, ou seja, usando o telefone ou um computador tentar passar a voz para texto. Ontem estava a fazer mais uma experiência destas quando o Rodrigo Pratas que trabalha ao meu lado reparou no que estava a fazer. Esta ferramenta dá muito jeito a qualquer jornalista, se funcionar. Como os microfones que temos nos computadores não são grande coisa, estava a tentar usar o telefone para passar uma entrevista diretamente para o Google Docs, verdade se diga sem grandes resultados. O Rodrigo propôs que ele ouvisse e ao mesmo tempo ditasse a entrevista com uma pronúncia mais correta do que o entrevistado tinha.
Passe a expressão, quase parecia milagre, acertava 98% das palavras e inclusive colocava corretamente a pontuação, distinguindo por exemplo a palavra “ponto” de um ponto final.
Acresce que ele estava a ditar para o telefone e estávamos a ver o resultado no ecrã do computador, obviamente a voz dele estava ir diretamente para algum servidor remoto da Google e um software estava a transcrever o que ele tinha dito para texto no meu documento. Quer dizer que todo o processo implicava viagens de milhares de quilômetros para os dados.
Isto implica que a Google, sem divulgação nenhuma, passou a aceitar ditado em português de Portugal. Estou a escrever este texto a ditar para o computador em casa. Funciona relativamente bem se falar bem devagar, quase esperando que ele cumpra a sua tarefa. Se tentar falar a um ritmo normal está tudo estragado e claro, que em qualquer dos casos tem que ser tudo corrigido.or enquanto o ganho de produtividade de tentar de falar em português para o computador é muito duvidoso. A julgar pelo que tenho visto neste sistema é de esperar que a evolução seja mesmo muito rápida. Em poucos meses o corretor ortográfico do Google deixou de propor coisas absurdas em espanholês para se tornar uma ferramenta fantástica, que está obviamente a fazer correções tendo em conta o contexto em que as palavras são escritas. É óbvio que está a aprender com o uso que lhe damos, a isto chama-se machine learning.
No mesmo sentido, não testei todos para ver se faz sentido e está correcto, mas o sistema Android 7.0 tem, na lista de idiomas possíveis o português de Portugal e o do Brasil, de Angola, de Cabo Verde da Guiné-Bissau, de Macau, Moçambique, São Tomé e Príncipe e até Timor-Leste nunca tinha visto o português assim representado em nenhum sistema operativo.