Não têm sessenta nem setenta anos. Têm trinta e cinco, quarenta anos… e não conseguem encontrar um namorado/a. Estudaram muito, têm um bom emprego, são médicos, advogados, juízes, professores, pilotos, engenheiros, apresentadores de televisão, trabalham muito mais do que era suposto, ganham mais ou menos bem, alguns acima da média, vivem com os pais, outros sozinhos, outros ainda vivem com os filhos porque se divorciaram.
Todos querem ter um namorado/a. Alguns dizem que não, que já estão “vacinados”, mas a validade da “vacina” nem sempre é muito grande. São atraentes, cultos, inteligentes, interessantes, simpáticos, bons comunicadores, generosos, têm sentido de humor, são talentosos, alguns são figuras mediáticas do cinema, das telenovelas, da política, do mundo empresarial… tem tudo para ter não um, mas muitos “interessados”. E têm, mas nenhum preenche os “requisitos” ao “lugar de namorado/a”. Todos têm algo em comum: querem viver um grande amor e não o encontram.
Conforme os anos vão passando, maior a pressão. Elas porque o relógio biológico não pára de lhes gritar: “Despacha-te porque já não tens muito tempo”. E quando não é o tal relógio, é a solidão que lhes sussura baixinho a cada instante: “Por este andar vais ficar sozinha!”
Eles, porque talvez já estejam saturados de “saltitar” de atração em atração ou cansados de sentir todas as noites o lado frio e vazio da cama, querem agora uma mulher em quem confiem, que os faça sentir “grandes”, que valha a pena voltar para casa todos os dias.
Mais uma vez, em comum: a carência afectiva e a procura de se sentirem aceites, valorizados, desejados e amados. Querem o mesmo, mas não se encontram. Ou encontram e logo se desencontram. A lista dos requisitos nunca é preenchida e decidem “saltar fora”. Fica a sensação de vazio e a dúvida se um dia acontecerá de novo. E enquanto não acontece, a tristeza, a angústia, a ansiedade, a frustração e o desespero vão se instalando, porque de uma forma ou de outra, podem sentir-se incapazes de o conseguir alcançar, mas especialmente porque os outros assim o fazem sentir.
Em pleno século XXI, vivemos numa sociedade e num mundo em que as pessoas sem namorado tem um qualquer problema ou “avaria”, que todos tentam resolver e concertar. A pressão psicológica e emocional a que se auto-induzem, no sentido de encontrarem um namorado/a, e a pressão social e familiar pode ser tão intensa, a ponto de algumas pessoas fazerem uma série de disparates, como namorar com quem não gostam, nem delas gosta, ou mesmo casar, só para não ouvir os comentários dos pais e/ou dos amigos já casados e com filhos. Meses ou anos mais tarde divorciam-se.
São inúmeras as pessoas que me revelaram ao longo do meu percurso profissional, terem casado sem querer casar, terem tido filhos sem quererem ser pais, terem “ficado” com pessoas que não amavam, apenas para fugir dos seus próprios medos e agradar a quem sentiam ter o dever de o fazer. Está admirado? A perguntar-se como é possível isto acontecer? Mas é esta a realidade.
Outra faceta desta realidade, é a procura de pessoas que não existem, a não ser na cabeça das pessoas que as procuram. Se as nossas avós queriam um homem que fosse um bom marido e um bom pai, e quando assim não acontecia, aguentavam para não ir viver para debaixo da ponte, hoje muitas mulheres procuram não homens, mas “super-homens”, que sejam super-românticos, super-atenciosos, super-atentos, super-empáticos, super-conversadores, super-atraentes, super-sedutores, super na intimidade sexual, super-tolerantes e compreensivos, super-calmos, super bem-sucedidos, super-pais e de preferência super-ricos. E, quando uma destas “coisas” falha, colocam-lhes um ponto de interrogação vermelho na testa, mesmo quando o passado recente demonstra que eles têm muitas dessas qualidades.
A idealização pode ser a razão pela qual muitas mulheres fazem listas de requisitos essenciais, “descartam” ou não encontram um companheiro. Não estou a dizer que devem aceitar tudo para viver um amor, pois se o fizerem apenas viverão o “desamor”, especialmente por si mesmas. Mas é preciso reduzir o uso da palavra “super”, especialmente quando se trata de namorados. Talvez seja o caminho para encontrar e viver o amor que tanto quer. Amor e “super” não conjugam nenhum verbo e podem ser inconciliáveis.
E quanto aos homens? Será que eles sentem o mesmo? Será que também fazem listas de requisitos e andam a idealizar demasiado as mulheres? Será que querem “super-mulheres”? É curioso, porque a minha experiência com casais demonstrou-me que os homens não fazem listas de requisitos tão grandes e não idealizam tanto as mulheres, como elas os idealizam. Os homens não procuram tanto “super-mulheres”. Aliás, isso do “super” assusta-os, pode fazê-los sentir inseguros, não estar “à altura” e levá-los a pensar “para que é que ela precisa de mim? “
Então, porque também não encontram as namoradas que querem? Parece-me que culturalmente os homens ainda não aprenderam a relacionar-se com estas “novas” e super-exigentes mulheres, especialmente os que têm mais de quarenta anos. As mães destes homens, muitas delas, educaram-nos para ter uma carreira de sucesso e não para os afectos ou para falar de amor ou de sentimentos. São “super-carreiristas” no trabalho, mas muitos deles estão ainda no “secundário”, senão na “primária” no que toca à linguagem dos afectos, à empatia e ao descobrir das necessidades emocionais dessas mulheres e escondem as suas fragilidades e vulnerabilidades.
Os homens de vinte e de trinta anos já demonstram maior habilidade, mas ainda assim, quando chega o momento de falar sobre os problemas de uma relação e sobre afectos, tal como os primeiros, não percebem o que elas querem, e muito menos quando elas querem que eles sejam perfeitos e que lhes dêem um “tudo” que não existe.
Homens e mulheres, apesar de quererem ter uma relação, amar e sentir-se amados, parecem falarem línguas diferentes. Eles não têm paciência para conversas sobre problemas da relação, porque pensam que elas passam a vida a inventar problemas. Elas sentem total indiferença da parte deles quando eles se recusam a falar sobre o amor e se afastam. Ambos pensam que a relação vai acabar assim que discutem mais do que cinco minutos. Como querem ter namorados? Difícil, não lhe parece? Mesmo quando estão numa relação, é difícil encontrarem-se.
Outras razões por detrás deste desencontro, pode ser o facto de o desespero ser sentido por quem está potencialmente interessado, o colocar nas mãos de outra pessoa a responsabilidade pela sua felicidade, o acreditar numa relação perfeita, sempre cor-de-rosa e em que a paixão é uma constante, o focar-se nos aspectos negativos e nas experiências menos boas, esquecendo o “lado bom” e os momentos maravilhosos passados a dois.
Fundamental é perceber o que se passou nas suas relações passadas, porque acabaram e o que aprendeu com elas. Caso não o faça, existirá tendência a repetir os mesmos padrões e a procurar pessoas que alimentem esse mesmo “registo” de relação. A descartabilidade da sociedade em que vivemos pode levá-lo a “deitar relações para o lixo” só porque essa pessoa não é como queria que fosse, não pensa nem é como você.
Também pode estar a acontecer que estejam a projectar um no outro aspectos da sua própria personalidade com os quais lidam menos bem, ou a tentar resolver situações não resolvidas no passado com os progenitores.
Nos últimos anos, apercebi-me que muitos casais discutem e separam-se, porque projetam um no outro “dores” e sofrimento de um passado longínquo e de experiências mais ou menos marcantes.
Existe ainda uma mensagem que eu gostava de lhe deixar. O facto de ter um namorado/a não é garantia da sua felicidade. Não é o seu namorado/a que o vai fazer feliz. Ele/ela pode apenas fazer com que se sinta ainda mais feliz. Só vale a pena ter um namorado/a quando essa pessoa nos faz sentir ainda melhor connosco próprios, com os outros e com o Mundo.
Esqueça os “super-homens” e as “super-mulheres”. Eles só existem nos filmes e na sua cabeça, são produto da sua imaginação. Conheça e perceba se consegue aceitar aquela pessoa com tudo de bom e menos bom que ela tem. Todos temos os dois lados e quanto mais depressa o aceitar, melhor para si.
O desespero para encontrar um amor, pode fazer com que ele fuja de si! Viva a sua vida o melhor que souber e puder. Seja Feliz consigo! Divirta-se, ria, brinque, sinta, viva… Quando se sentir muito bem consigo mesmo, esse amor vai aparecer. Nesse momento deve perguntar-se: Como me sinto melhor? Comigo, ou ao seu lado?
Se a resposta for a primeira, espere… Se for a segunda, conheça! E se continuar a sentir-se cada vez melhor, mais alegre e mais feliz… deixe-se de “supers” e ame!