Há uns meses, completei os meus 18 anos. Sou adolescente e ainda o vou ser durante algum tempo. Sinto que cada vez mais me afasto da minha infância e me aproximo da vida adulta. Em textos anteriores, falei-vos das saudades do tempo em que era criança, um tempo que se afasta agora de mim a cada ano que passa. Senti, sinto e sentirei sempre a falta dessa infância e no entanto, começo a gostar de sentir o cheiro da liberdade.
O meu desejo de voltar atrás esbate-se na minha vontade de crescer. Olho para a frente e vejo uma vida inteira, cheia de experiências pelas quais eu anseio. Por mais que eu esteja a gostar de um livro, não consigo repetir a primeira parte até virar a ultima página. Quero saber mais, conhecer mais, viver mais e só depois, como faço com todos os meus livros preferidos, é que o vou reler.
Estou na altura do primeiro carro, em que alguns dos meus amigos estão a tirar a carta e outros, ou está à procura de um carro para estragar ou já estão a ser mais um perigo na estrada. Já não existe aquela situação comum de combinar com os pais para nos irem levar e buscar, agora tentamos cravar boleia aos amigos, agarramos o cinto de segurança e rezamos pela vida. Todos temos aquele amigo que tirou a carta há um mês e ainda deixa o carro ir abaixo mais vezes do que devia (esse amigo vou ser eu em breve).
Vamos tentando arranjar trabalho aqui e ali, dizendo sempre que conseguimos conciliar tudo com os estudos, o que não é de todo mentira. A mentira é quando dizemos que queremos trabalhar para aprender a ter mais responsabilidades e para conhecer o mundo do trabalho. O que queremos realmente é dinheiro para irmos de férias com os amigos e comprarmos aquelas coisas que colocam sempre um “não” na boca dos pais.
É tudo resultado de um desejo inevitável por independência, típico desta idade. A vida adulta está-se a aproximar e nós queremos já uma dentada da melhor fatia, correndo sempre o risco de sermos bem capazes de nos engasgar.
Somos independentes até um certo ponto. Não têm que nos alimentar, o que já é uma grande independência. Se bem que cozinhar possa não ser o forte de algumas pessoas, temos pelo menos um amigo que até dava um candidato razoável ao Masterchef portugal. Se não tivermos nenhum amigo Chef, também não nos perdemos e compramos umas pizzas no supermercado. Ficarmos sozinhos em casa também já não é um perigo nem um problema, até é algo bastante agradável para muitos de nós. Somos meio adultos e meio crianças, sabe bem não ter regras, mas algumas vezes sabe ainda melhor chegar a casa e sentir o cheiro da nossa comida preferida cozinhada pela mamã.
As conversas de café mudaram, alteraram-se com o tempo, evoluíram com a idade. Há uns anos, nem se chamavam conversas de “café”, eram conversas do recreio. Antes nem cafés bebíamos, era só um Ice Tea ou uma Coca-Cola.
Por isso sim, somos adolescentes. Temos saudades de ser crianças mas ainda mais vontade de ser adultos. Queremos tirar a carta e ir a acelerar na autoestrada até chegarmos a uma placa que tenha como destino a liberdade total. Mas têm que nos dar dinheiro para gasolina até lá, obviamente, porque a liberdade ainda fica um bocado longe. Longe, assim como no Reino Bué-Bué Longe, do Shrek
Os pais também vão ter saudades da nossa infância, das caras bolachudas e risos amorosos. Vão ter dificuldade em deixarem-nos cometer os nossos próprios erros e abdicar um bocado do seu controlo. Mas acho que por mais difícil que seja verem-nos crescer, também os deve fazer sentir muito felizes.
Como nós ainda não temos trinta anos de experiência, se nos colocarem ao volante é possível, que alguns erros sejam cometidos sem intenção. E vocês provavelmente estarão no banco ao lado a abanar a cabeça e a pensar “idiota”. Mas já estiveram no nosso lugar, nervosos, entusiasmados, inexperientes e a verdade é que só existe uma maneira de aprender a conduzir, conduzindo.