Os cigarros electrónicos (CEs) são dispositivos que libertam nicotina líquida sob a forma de um vapor inalável, sendo uma novidade recente em termos dos hábitos tabágicos um pouco por todo o mundo.
Várias marcas e cadeias comerciais têm vindo a disponibilizar estes dispositivos, sendo que a questão central para os cidadãos e autoridades de saúde é a do seu efeito agregado poder criar mais dependência (de nicotina) em vez de diminuição do risco global (da nicotina, mais todos os outros componentes do tabaco tradicional responsáveis pelo risco oncológico, pulmonar, etc.).
A nossa agência do medicamento (o Infarmed) afirma que, numa nota de 2011, …” Os cigarros electrónicos podem ter diferentes apresentações” e que “Tal como o cigarro convencional, o uso de cigarros electrónicos pode induzir dependência, independentemente da quantidade de nicotina dispensada.” Esta posição é idêntica à da DGS.
A utilização dos CEs é controversa, com instituições como o American College of Physicians recomendando regulação apertada, semelhante à dos cigarros convencionais.
Por isso mesmo, é interessante analisar uma revisão sistemática da literatura recentemente publicada pela Cochrane Collaboration sobre a utilização dos CEs como técnica de cessação tabágica. Esta revisão da literatura científica destinou-se a esclarecer se o uso de CEs ajuda os fumadores a deixar de fumar e qual o grau de segurança desta abordagem preventiva.
Tratou-se de uma actualização de uma outra revisão publicada em 2014, com a adição de 11 novos estudos aos 13 que tinham sido incluídos na primeira revisão, num total de 24. Destes, apenas dois foram ensaios clínicos (a melhor metodologia capaz de analisar o benefício e risco das intervenções terapêuticas), comparando pacientes utilizando CEs contendo nicotina com pacientes utilizando CEs sem nicotina.
Os resultados combinados destes dois estudos demonstraram que, aos 6 meses, nos 662 fumadores incluídos nos dois estudos os CEs com nicotina aumentavam a possibilidade de os fumadores deixarem de fumar no longo prazo, quando comparados com os fumadores usando CEs sem nicotina. O efeito foi modesto (5%), mas apesar de tudo importante, já que não foram disponibilizadas aos sujeitos dos estudos outras intervenções concomitantes (um princípio fundamental na intervenção antitabágica).
Devido à modesta dimensão da amostra, os autores não conseguiram determinar se os CEs seriam tão eficazes como os adesivos de nicotina. Em termos de segurança, nenhum dos estudos detectou qualquer risco aumentado nos utilizadores de CEs durante o período de duração dos estudos (menos de 2 anos).
Que concluir?
Bom, que de dois males, talvez seja de escolher o menor…ou seja, quem não consegue deixar de fumar por completo pode encontrar nos cigarros electrónicos uma solução razoável, desde que determinado a atingir uma cessação completa.