A proposta parecia demasiado boa para ser verdade: visitar o telescópio ALMA, no deserto do Atacama. À medida que lia o email enviado pelos representantes portugueses do Observatório Europeu do Sul (ESO), viajava para trás no tempo.
Num instante, vi-me no terraço da minha infância, há trinta anos, a olhar para cima. Para o céu estrelado de uma noite de agosto a meio do Atlântico. Na minha aldeia da Maia, em S. Miguel, o céu brilhava com mais força naquele tempo – poucos carros na rua, duas ou três tabernas mal iluminadas e uns modestos postes de luz amarela, suficientemente discretos para manterem em segredo muitos encontros noturnos, eram uma fraca concorrência para as estrelas.
Nunca fui muito boa a fixar o nome das estrelas ou das constelações e as suas posições relativas no espaço. Mas aquelas noites de observação e as conversas prolongadas com o meu pai, sobre o imensamente grande, o absolutamente inatingível, deixaram marca. Foi por causa delas que quis ser astronauta, que escolhi estudar engenharia aeroespacial e que, já adulta, e um pouco menos romântica, optei pelo jornalismo de ciência. Pelos vistos, não me enganei na opção.
Afinal, o jornalismo irá levar-me aos 5 mil metros de altitude, ao local onde está instalado o ALMA – o maior projeto astronómico da atualidade. Uma grande janela para o Universo – que na prática é formado por 66 antenas a funcionar como uma só – instalado no deserto do Atacama, Chile.
A 12 de março, uma comitiva de políticos, astrónomos e jornalistas assiste à sua inauguração oficial. Este projeto ambicioso une europeus, americanos e asiáticos num único objetivo: alimentar uma das mais elementares necessidades do Homem, a curiosidade.
Antes de chegar ao ALMA, fique a conhecer, aqui, os principais apeadeiros desta viagem que permitiu a construção do Atacama Large Millimeter Array. Uma paragem por cada dia.