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Existe diferença entre ética e moral? No Dicionário da Academia das Ciências, os conceitos são apresentados como equivalentes. Porém, não me interessam agora tanto as definições filosóficas profundas, consensuais ou não, sobre os conceitos em causa, mas mais a vivência quotidiana que destes fazemos. E, a esse nível, sinto que essa diferença existe e vou expor a minha interpretação, distinguindo uma dimensão um pouco mais teórica e outra um pouco mais prática.
De um ponto vista mais teórico, e entendendo-se a Ética como parte da Filosofia, estabelece-se que as suas teses nascem do pensamento. Por isso, estamos perante uma atitude intelectual, académica, filosófica, que pensa nos princípios e valores humanos universais – usando a razão e o conhecimento. Trata-se, assim, de uma construção (comportamento activo) racional, e individual (feita por indivíduos), realizada a partir do nosso interior (nosso esforço pessoal de reflexão) e dos desafios do presente. Em contrapartida, a moral não parte de uma acção cognitiva, pois está interiorizada em nós; tem por base a aceitação de determinados comportamentos sócio-culturais como sendo os naturais, os correctos, reproduzidos de geração em geração. Posiciona-se assim num oposto de caracterização: uma herança (comportamento passivo) de base emocional, e colectiva (transmitida pela sociedade em geral), imposta pelo exterior e formada a partir do passado.
Olhando para estas duas tentativas de ilustração dos conceitos, encontramos níveis muito diferentes de liberdade, pois apenas a ética permite que os membros de uma sociedade discutam o enquadramento de que dispõem para os seus actos e comportamentos e decidam, eventualmente, novas fórmulas e perspectivas alternativas.
De um ponto de vista mais prático, e tendo em conta o modo como sinto e vivo estes conceitos, vejo a ética definir o que não devemos fazer, deixando uma margem extensíssima para o que podemos fazer, ou seja, para a nossa liberdade individual, e, em contrapartida, a moral definir o que devemos fazer, pelo que essa liberdade fica, frequentemente, remetida para a eventual transgressão das normas estabelecidas.
Assim, e concretizando, entendo que, na gestão comportamental da nossa vida quotidiana, a vantagem da obrigação de não praticar o mal sobre a obrigação da prática do bem é imensa.
Primeiro, porque existe um consenso civilizacional, relativo ao que é considerado mal, muito superior ao que acontece com a concepção do bem (que proliferou de forma quase ilimitada em função da diversidade de credos e de culturas).
Depois, e sobretudo, porque existe uma diferença abissal de liberdade entre as características estruturais, naturais, das duas atitudes. Mal comparada, semelhante à diferença de liberdade resultante destas duas frases: “senta-te nesta cadeira” (moral) ou “não te sentes nesta cadeira” (ética). Esta última subentendendo, claro, que me posso sentar num número infindável de sítios. Ou, mesmo, não me sentar e, quem sabe, começar a dançar. Ou ir-me embora.
Afinal, para mim, a diferença entre ética e moral mede-se em liberdade.