Ilda Rosmaninho sonhou tanto com um futuro para os seus filhos que acabou por não lhe sobrar um presente para ela. E hoje vive longe dos filhos, apartada do tempo, arredada dos vizinhos. E desligada do mundo, o que quer dizer, de costas voltadas para a televisão. Para ver desgraças basta-me a vida, defende-se ela.
Com oitenta e um anos, não há semana que não escreva uma cartinha para cada um dos seis filhos. É assim que insiste em chamar: uma “cartinha”. A caligrafia está como ela: palavras tortas, as vírgulas reumáticas, os acentos vergados pela artrose.