Na primeira invasão francesa (1807 – 1808), enquanto Junot ocupava Lisboa, a guarda da cidade do Porto foi confiada, pelos franceses, a tropas espanholas, de Carlos IV, aliado de Napoleão, comandadas pelo general D. Francisco Taranco e Llano, capitão – general da Galiza
No próprio dia da chegada o militar espanhol chamou as autoridades portuenses ao seu quartel general, que montara no edifício da Feitoria Inglesa, junto à Ribeira, e disse-lhes mais ou menos isto: “ … somos vizinhos. Não tenho nada contra os portugueses. Peço – vos que instruam a vossa gente no sentido de se manterem quietos e tranquilos. Que faça cada um a sua vida. Não hostilizem os meus soldados e ninguém fará mal aos portugueses…” Disse e cumpriu.
A alocução de D. Francisco Taranco foi feita a 13 de Dezembro de 1807. Em meados de Janeiro seguinte o general espanhol morria repentinamente logo a seguir a ter jantado em casa de um súbdito francês de apelido Salabert que vivia na quinta onde hoje está o Jardim Botânico. Os resultados da autópsia feita por médios militares espanhóis deram como natural as causas da morte. O enterro do general espanhol constituiu a maior manifestação de pesar alguma vez vista no Porto. A cidade parou para assistir à passagem do cortejo fúnebre .
A D. Francisco Taranco sucedeu outro general espanhol, D. Domingos Ballestá. Logo que tomou posse agradeceu à cidade a homenagem que os portuenses haviam prestado ao seu antecessor e reiterou a proposta de D. Francisco Taranco: de que a cidade se mantivesse tranquila e fizesse a sua vida que os espanhóis não os perturbariam.
Mas, apesar das promessas, os portuenses sofriam vexames sem conta. Por ordem do imperador dos franceses, as bandeiras portuguesas e outros símbolos, como galhardetes e auriflamas, foram queimadas ou destruídas.
Os brasões que ostentavam as armas da coroa foram mandados apear dos sítios onde estavam e picados. Até as pedras de armas de titulares foram picadas. Alguns fidalgos para evitar a destruição dos seus símbolos de nobreza, mandaram – nos cobrir de cal.
Um brasão houve que escapou à sanha dos franceses – o que está no alto da fachada da igreja da Santa Casa da Misericórdia do Porto, na rua das Flores. Deve ter sido a dificuldade de acesso ao local, a parte mais alta do frontispício do templo, que esteve na origem da sua não destruição.
E os portuenses passaram a olhar para ele como um símbolo da esperança de que o fim do cativeiro estaria para breve. Quem passava na rua das Flores, e muitos faziam-no com esse propósito, olhava lá para o alto, colocava a mão sobre o coração e entoava em surdina o hino da coroa.
E a hora do grito da independência chegou finalmente no dia 18 de Junho de 1808. D. Domingos Ballestá voltou a chamar as autoridades e disse-lhes isto: “ O meu país está a levantar-se contra a ocupação napoleónica. Eu vou para lá para partilhar e colaborar nessa libertação. Vocês ficam entregues a vós próprios e só tendes duas opções: ou libertais vos soltando o grito da independência, ou sujeitais vos ao jugo de Napoleão “
Os portuenses não tiveram dúvidas. Correram ao campo da Regeneração, atual praça da República, e ali mesmo fizeram ou vir o seu grito de independência.