A portaria governamental que mandava demolir o convento das freiras beneditinas de S. Bento da Ave Maria, fundado por D. Manuel I, no século XV, numas antigas hortas do bispo, para no seu lugar se construir a estação central dos caminhos-de-ferro da cidade, foi publicada em 5 de Novembro de 1888.
Ainda nesse ano, engenheiros e pessoal das Obras Públicas “invadiram” a clausura e começaram a tirar medidas com o propósito de dar início aos trabalhos de demolição. O mosteiro ainda estava habitado. À frente dos funcionários apareceu a abadessa que lhes disse de forma calma e serena: “podem tomar quantas medidas quiserem que o convento não vai a terra enquanto aqui houver religiosas; temos muita fé no nosso patriarca S. Bento que nos ouve e o milagre vai acontecer: ou o ministro morre ou cai o ministério…”
O ministro que era o Emídio Navarro não morreu, mas demitiu-se dias depois da pasta das Obras Públicas. O convento só começou a ser arrasado após a morte, em 17 de Maio de 1892, da última abadessa, D. Maria da Glória Dias Guimarães.
As imagens da imponente igreja foram adornar altares de outros templos; a confraria do Senhor do Bonfim comprou o órgão; e os ossos das religiosas, que jaziam debaixo do soalho da igreja e sob o lajedo do claustro, foram levados para um sarcófago no cemitério do prado do Repouso que ficou assinalado com um belíssimo pórtico manuelino, velha relíquia salva da construção do tempo de D. Manuel I. Na altura em que se começou a construir o edifício da estação um técnico de transportes desabafou: “perdeu-se um monumento e a estação nunca será a gare central da cidade. No futuro servirá somente para comboios suburbanos porque a estação para composições de longo curso terá que ser em Campanhã “.
Disse isto no começo do século XX. E não é que acertou?