A conquista do título de tricampeão nacional é um feito notável do Benfica, do seu treinador, jogadores e dirigentes e a uma recompensa merecida para a sua massa adepta. E é, ao mesmo tempo, um enorme fracasso para um homem: o presidente do Sporting Clube de Portugal, Bruno de Carvalho.
O Sporting sofreu um desaire pesado. É verdade. Mas foi um digno competidor e seria inteiramente justo se tivesse sido campeão. Jogou muito bom futebol ao longo da época, os seus jogadores foram de uma entrega excecional e, alguns deles, estiveram entre as grandes estrelas da prova. Os adeptos, como é hábito, foram incansáveis. Todos juntos viveram uma época fantástica, como há anos não viviam, mas, como costumava dizer o próprio Jesus, “o que conta é como acaba e não como começa”.
O treinador do Sporting, que, como se previa, foi figura central deste campeonato e tem motivos de sobra para estar satisfeito. Não conseguiu ser campeão, como desejaria, mas voltou a mostrar o que já se lhe conhecia: uma enorme competência. Fez bem o seu trabalho, tirou todo o partido dos jogadores de que dispunha, levou a equipa a praticar, muitas vezes, um futebol empolgante e a lutar pelo título até à última jornada. Conseguiu mesmo conquistar o maior número de pontos da sua carreira. Está de parabéns, apesar de ter também voltado a demonstrar alguns dos seus mais típicos defeitos. Voltou a ver a sua equipa desperdiçar uma larga vantagem na classificação e a perder jogos decisivos. Falhou, uma vez mais, na comunicação, dando força ao treinador rival quando tentava amesquinhá-lo quando se sentia na mó de cima. E acabou a queixar-se de injustiça por achar que o Sporting foi a melhor equipa do campeonato. Nada que não lhe tivesse acontecido já, há quatro anos, quando, além do campeonato, perdeu também uma final da Liga Europa.
Mas o falhanço de Jesus não se compara ao fracasso do seu presidente. Esse é total. Como se costuma dizer na gíria futebolística, colocou a carne toda no assador: contratou o treinador do rival e traçou como objetivo a conquista do campeonato. Falhou. Apresentou-se uma vez mais como paladino da moralização do futebol português, mas passou uma época inteira a usar armas velhas e gastas. Sobraram guerras, comunicados, acusações, ataques e insinuações. Faltaram justificações. Ficaram também algumas dívidas por pagar. À Doyen mas sobretudo aos sócios e adeptos do Sporting, a quem vem prometendo a conquista do título de campeão, mas que durante os seus três anos de mandato, já viram o Benfica festejar três vezes.
Pode vangloriar-se de ter ganho três vezes ao Benfica e duas vezes ao FC Porto. Pode recordar a conquista da Supertaça. Pode até gritar aos sete ventos a sua equipa jogou o melhor futebol. Mas, feitas as contas, o resultado é só um: o Sporting de Bruno Carvalho jogou como nunca, mas perdeu como sempre.
No campo dos grandes derrotados da temporada há que juntar a Bruno de Carvalho a figura de Jorge Nuno Pinto da Costa. Mesmo que o FC Porto venha a conseguir conquistar a Taça de Portugal, no próximo domingo, frente ao Sporting de Braga, nada poderá esconder mais este ano sem ser campeão e confirmação de que perdeu a hegemonia do futebol português para o Benfica. Nem a eleição sem oposição para mais novo mandato na presidência do clube escondem a fustração dos adeptos e as graves desconfianças em relação à forma como, com aqueles que o rodeiam, tem vindo a gerir os destinos do clube.
Mas porque as conquistas se fazem de vencedores, é impossível falar deste campeonato sem falar de Rui Vitória. O início de época foi dramático para ele. Ao peso de substituir Jorge Jesus, à falta de experiência e a uma pré-epoca desastrosa vieram juntar-se três derrotas de rajada com o Sporting. Foi, porém, capaz de manter sempre a serenidade e um discurso determinado e focado. Soube rentabilizar em seu benefício os ataques desbragados do antecessor e mostrou que, afinal, “o cérebro” não mudara de lado da Segunda Circular. Ao toque a reunir de adeptos e dirigentes em sua defesa, Rui Vitória respondeu com competência em todos os domínos: no discurso, na gestão do plantel e na orientação técnica em jogo. Tirou todo o partido do plantel de que dispunha e cumpriu os desígnios do clube, descobrindo na formação os talentos e os reforços para a dar a volta à situação. No fim, cumpriu com distinção ao levar o Benfica à conquista do 35ª títutulo com o maior número de pontos de sempre em Portugal, tornando-se, assim, apenas o quatro português a conseguir ser campeão no clube da Luz.
Finalmente, do lado dos vencedores tem de constar, obviamente, Luís Filipe Vieira. Só não ganhou em toda a linha por não ter assumido sem hesitações que a saída de Jorge Jesus era uma vontade sua. Se o tivesse feito, talvez o início de temporada não tivesse sido tão difícil para a equipa, os adeptos e Rui Vitória. Tirando isso, a verdade é que a sua estratégia deu resultado. Acertou na escolha do treinador, viu o reforçada a aposta na formação, que rendeu frutos desportivos e, pelo menos, mais uma venda milionária. E voltou a levar o Benfica à conquista de um tricampeonato, algo que não acontecia há 39 anos. Isto na mesma altura em que nas principais modalidades ditas amadoras, o clube continua a disputar e ganhar títulos nacionais e internacionais. Um lugar na história já ninguém lhe tira.