Chegou à presidência do Sporting com um discurso de renovação e falando numa nova maneira de estar no futebol. Mas quanto mais tempo passa mais se lhe reconhecem velhos hábitos e gestos gastos. Mesmo os mais sportinguistas não terão dificuldade em que reconhecer no seu presidente tiques de muitos dos que por aqui andam ou já passaram há muito tempo. De Sousa Cintra, a Vale e Azevedo, passando por Pinto da Costa e Luís Filipe Vieira. Todos eles ficaram na história dos seus clubes e do futebol português, mas nem sempre pelas melhores razões.
A comparação com Vale e Azevedo é inevitável, tal a facilidade com que Bruno de Carvalho “rasgou” o contrato que os seus antecessores haviam assinado com um fundo para poder ter Marcos Rojo. Na altura de vender o jogador, a parte do lucro correspondente ao fundo ficou na posse do Sporting. Quando, há uns anos, Vale e Azevedo rasgou o contrato com a Olivedesportos, muitos foram os que aplaudiram. Anos mais tarde, esse gesto custou ao Benfica milhões perdidos em receitas televisivas.
De Pinto da Costa, Bruno de Carvalho parece admirar a “fineza” do humor. São conhecidas as tentativas de brilhar com tiradas para ficar na história, sendo que a mais recente foi em torno de um tal de Belfodil. De fino recorte técnico, aliás.
Quem viu a forma como Bruno de Carvalho celebrou a vitória na Taça de Portugal, percebeu que o presidente do Sporting ainda não esqueceu o tempo em que gostava mesmo era de estar no meio da claque. Mas aquela imagem do líder do clube com o médio André Martins às cavalitas fez lembrar a muitos os primórdios de Luís Filipe Vieira no Benfica, quando, em cuecas, festejava os títulos de futsal no balneários com os jogadores.
Mas quem mais Bruno de Carvalho faz lembrar é Sousa Cintra. Não por costumar atirar garrafas de água pela janela do carro, mas pelo ímpeto nas ações, como aquelas com que marcou a última semana. Há muitos anos, Sousa Cintra também foi protagonista de um defeso especialmente quente. Atacou o rival e de, uma assentada, roubo-lhe Paulo Sousa e Pacheco. João Vieira Pinto, escapou por um fio. Mais tarde, a meio da época, despediu Bobby Robson para contratar Carlos Queiroz. O resultado todos se lembram: o Benfica foi campeão depois do 6-3 em Alvalade e Bobby Robson rumou ao FC Porto, onde, nesse mesmo ano, venceu a Taça de Portugal (contra o Sporting) e, nos dois seguintes, foi campeão.
A última jogada de Bruno de Carvalho foi, para muitos, de mestre. E tem tudo para o ser, de facto. Roubar o treinador bicampeão ao maior rival, pode ser a faísca que faltava para acender a chama do Leão. E, se há coisa que já se percebeu, é que o presidente do Sporting gosta de ver o circo pegar fogo. A ver vamos se não é ele quem acaba por se queimar. Ou, pior ainda, se não deixa o seu clube em chamas.