A biologia manda que nos alimentemos, que tenhamos filhos e também que sejamos justos e amigos do próximo. Os genes cooperam no genoma, as células nos tecidos, os indivíduos nas sociedades.
Tendemos a pensar que os conceitos de solidariedade ou justiça social são fenómenos complexos e elaborados, exclusivos de seres superiores, com cérebro desenvolvido e influenciados pela prática cultural. Experiências com crianças muito pequenas mostra que somos eminentemente pró-sociais, motivados a ajudar o próximo, mesmo que estes não nos peçam ajuda. E que isto vem inscrito no nosso código genético. Crianças de três anos têm uma tendência natural para devolver um biscoito ao seu devido dono, mesmo que este seja um boneco, e de recriminar o participante ladrão. “O sentido de justiça aparece logo na primeira infância”, conclui Keith Jensen, o investigador da Universidade de Manchester que fez o estudo.
Mas quanto mais experiências se fazem com animais, mais se percebe que este tipo de comportamentos se verificam em seres tão simples como os peixes ou as vespas.
Manda a Teoria da Evolução que a seleção natural leve os indivíduos a comportarem-se de forma a potenciar a sua integração. Ou seja, estamos condicionados a escolher a atitude que nos permite ser aceites no grupo. Ser popular. As vantagens são muitas: facilidade em escolher um parceiro, receber favores do grupo, ser seguido e admirado.
E esta integração passa pelo sentido de justiça. Num trabalho que se tornou um marco, da cientista americana Sarah Brosnan, percebeu-se que os macacos têm uma natural aversão à desigualdade. Os primatas da experiência declinavam a participação num jogo se os salários não fossem distribuídos de forma equilibrada. “Macaco-prego rejeita salários desiguais”, lê-se nas conclusões do artigo da Nature. Se por um salário entendermos uma banana bem madura. O mais surpreendente é que a atitude era ainda pior se um dos indivíduos fosse recompensado sem merecer, sem ter cumprido a sua tarefa.
Até seres tão simples como os peixes apresentam comportamentos de cooperação e punição. E uma evidente preocupação com a sua reputação entre o grupo.
Marta Moita, investigadora da Fundação Champalimaud, também estuda este fenómeno, usando ratos nas suas experiências, e percebeu que estes animais agem de forma pró-social, sem qualquer benefício próprio, fazendo escolhas que dariam recompensa de comida a outro rato. “A pró-sociabilidade é vantajosa em muitas situações, tanto para humanos como para ratos. O sentimento positivo quando um membro do grupo recebe uma recompensa positiva, ou sermos sensíveis às ações dos outros para atingir um determinado objetivo, poderão beneficiar o indivíduo,” explicou a neurocientista no estudo publicado na Current Biology. Ajuda-nos a manter a coesão, o que nos protege de outras ameaças. Ser bom, faz-nos mais fortes.