Uma das grandes ambições científicas deste século é compreender o que se passa no nosso principal órgão, o que faz de nós quem somos. Será o século do cérebro, diz-se. Uma missão tão grandiosa, apenas equiparável à pesquisa espacial, e que juntou vários países da Europa no projeto Human Brain.
Porque passamos um terço da vida a dormir, qual o papel dos sonhos, de que é feita a consciência, são algumas das grandes questões que incomodam filósofos e cientistas. Mas outras, aparentemente, mais prosaicas também carecem de explicação. Como o inegável efeito placebo, bem conhecido, e até aproveitado pelos médicos: se uma pessoa estiver convencida de que um tratamento resulta, vai mesmo melhorar de alguma forma. Ainda que este suposto medicamento não seja mais do que água com açúcar. Ou até de outra forma, se um paciente tiver confiança no seu médico e sentir empatia, os resultados serão claramente melhores, mesmo que os parâmetros avaliados sejam o nível de dor ou a aparência da pele.
O efeito está bem demonstrado e é até quantificável. Tanto que, nos ensaios clínicos a um novo medicamento, as pessoas que estão tomar uma substância sem princípio ativo apresentam, invariavelmente, melhoras. E por isso mesmo, este efeito, à volta de 20%, em média, tem sempre de ser descontado aos resultados positivos, no grupo de pessoas tratadas com o medicamento verdadeiro.
Num estudo recente, publicado no Journal of the International Association of the Study of Pain, verifica-se que o efeito placebo dos analgésicos está a subir, mas só nos Estados Unidos. Mantendo-se constante na Europa. No artigo, avançam-se várias teses: será por na América se fazer publicidade aos medicamentos e isto aumentar a expetativa dos doentes; será por nos ensaios americanos os doentes receberem um acompanhamento mais cuidado, com mais atenção do que nos europeus; será por os doentes terem sido mal selecionados?
Um efeito com muitas nuances e que acontece com cremes (qual é a mulher que não se vê mais elegante depois de usar um creme adelgaçante durante um mês?), comprimidos ou injeções. Sabe-se, por exemplo, que os resultados diferem de país para país – nuns locais são mais notórios no controlo da dor, noutros no valor da tensão arterial. Cápsulas têm, em geral, um efeito maior do que os comprimidos e as injeções ainda mais. Até é possível ficar viciado num efeito placebo. Nas crianças também acontece. Quantifica-se, analisa-se, mas pouco se sabe sobre o mecanismo biológico que está na sua origem. O que se passa afinal? Que poder é este?
Qualquer que seja a explicação, a grande questão fica por resolver: por que ruas e ruelas é que o cérebro comanda o nosso corpo? Que ligações existem entre neurónios e células do sistema imunitário?
Algumas pistas começaram a aparecer. Já se percebeu, por exemplo, que os telómeros, as pontas dos cromossomas, que determinam a idade das células, são influenciados pelos níveis de stress, e que isto, por sua vez, condiciona o número de anos que vivemos. Mas este é apenas mais um exemplo de que sabemos ainda muito pouco sobre nós. Que bom!