Há dois anos, indicava a Pordata, havia mais de um milhão de portugueses a viverem sozinhos, um número que duplicou desde o ano 2000. É uma tendência generalizada dos países mais desenvolvidos, com menos casamentos, mais jovens a formar as chamadas famílias unipessoais. Sair de casa dos pais quando se começa a trabalhar, ir viver sozinho antes de juntar os trapos com um companheiro ou uma companheira… Uma experiência preciosa, de grande crescimento pessoal.
Não é para todos, infelizmente, nem para muitos sequer. Em Portugal, poucos conseguem pagar, sozinhos, uma renda ou mesmo comprar casa em “início de vida”. Por cá, a tendência também existe, sim, mas a maioria desse milhão que vive sozinho são os idosos (55%). O prolongamento da vida e a consequente viuvez determinam essa vivência a solo, que na teoria nada devia ter a ver com a solidão, mas que na prática tem porque estamos a falar de idosos que vivem cada vez mais isolados socialmente.
Também temos os divórcios a aumentar o número dos agregados unipessoais, mas o facto é que, para as novas gerações (e não só), encontrar um teto para se estar só é tarefa quase impossível.
Os últimos dados do Instituto Nacional de Estatística, de 22 de outubro, mostram que o preço médio do metro quadrado em Portugal está agora nos €2 089, uma subida de quase 20% num ano. Esta é a média do País. Em Lisboa, paga-se o metro quadrado a €4 865 e no Porto a €3 309. Cascais, Oeiras, Odivelas e Almada, só para falar dos municípios mais populosos, estão todos acima dos €3 000/m²
Quer isto dizer que um apartamento de 80 m² no concelho de Lisboa custa, em média, €390 mil e, no Porto, €265 mil.
Um relatório do Conselho Europeu divulgado na semana passado mostra que Lisboa é a cidade da União Europeia onde o esforço para pagar casa é maior em relação ao salário médio. Na capital, o preço das habitações corresponde a 116% do salário médio. Por isso, não, um salário não chega para ter casa. Em Barcelona e Madrid, a habitação corresponde a um rácio de 74% do salário médio, mas bom mesmo é ir viver para Viena (37%), Frankfurt (34%) ou Helsínquia (35%).
Faltam casas por toda a Europa, mas o flagelo é bem mais visível em Portugal. Segundo o portal Idealista, no que diz respeito às vendas, 12% da oferta fica menos de sete dias no mercado. Em Faro, estas vendas expresso chegam aos 21%. Em Lisboa, metade da oferta vende-se em menos de três meses.
Os preços são altos, mas há compradores. E os sucessivos governos insistem na medida número um para fazer face à situação: construir mais. É a clássica lei da oferta e da procura: quanto mais oferta, mais os preços tendem a estabilizar. Só que não. Na segunda-feira, uma investigação do jornal Público mostrava que as regiões onde houve um maior aumento da construção foram aquelas onde também os preços mais subiram. Caso da Área Metropolitana do Porto, da Região Autónoma da Madeira ou da zona Oeste.
A economia, esquecemos muitas vezes, não é uma ciência exata, às vezes parece tão incerta como a meteorologia e só ligeiramente mais fidedigna do que a astrologia. Tal como nas previsões dos signos, especula-se muito nestas bolhas imobiliárias.
Podemos até gastar todas as nossas energias a discutir a burca de meia dúzia de mulheres no espaço público, mas talvez fosse mais avisado colocar o foco a procurar alguém a quem possamos fazer uma das mais importantes perguntas das nossas vidas: “Queres dividir a renda comigo?”