Talvez o Papa Francisco seja das poucas pessoas que mereceu um reconhecimento alargado em vida, porque somos sempre melhores no elogio póstumo do que no agradecimento aos vivos. Escrever este texto no momento da sua partida é, pois, este misto de tristeza pela perda e de enorme felicidade pelo seu contributo para um despertar das consciências e para um abrir continuado de portas de esperança numa Igreja que tantas vezes, ao longo da história, mesmo da mais recente, não quis olhar para fora e se calou perante o absurdo da exclusão.
Na sequência de um texto que escrevi a pedido do jornal Expresso nas primeiras horas da notícia da sua morte, tive duas conversas interessantes com bons amigos. Um, timidamente, sugeria que o Papa Francisco não foi assim tão diferente de outros e que eu elogiava por uma diferença hiperbolizada (marcada pelo meu lugar de observação à esquerda). Outro, mais abertamente, dizia que sim, que as suas palavras foram inspiradoras, mas que, na essência, nada se alterou e que são muitas as portas que continuam fechadas. Entusiasmante este Papa que não deixou ninguém indiferente! Uns porque o acharam de mais, outros porque o acharam de menos. Lembro-me de, no dia da sua eleição, ter sentido uma simpatia clara que começou na escolha do nome. Francisco, que assumi ser o de Assis, na sua relação com a natureza, enquanto criação, na escolha da simplicidade e na rejeição da pobreza como desígnio para os outros.