Vivemos na era da hiperconectividade, onde a informação (não confundir com conhecimento) nunca dorme e as nossas mentes tampouco. A avalanche de notícias, a pressão das redes sociais e a cultura da urgência de estar online minam silenciosamente a nossa resiliência emocional. O resultado? Um cansaço digital que exaure e desafia a capacidade de regular emoções, tomar decisões conscientes e manter uma saúde mental equilibrada.
Este fenómeno surge relacionado com o paradoxo da conectividade: nunca estivemos tão conectados e, ao mesmo tempo, tão isolados (uns dos outros e do mundo). A tecnologia e, em particular, as redes sociais proporcionam-nos interações instantâneas, acesso ilimitado a informação e a oportunidades de estarmos em rede em qualquer lugar e a qualquer hora. No entanto, esta mesma conectividade pode levar à sobrecarga cognitiva, à superficialidade nos vínculos interpessoais e à ansiedade gerada pela necessidade constante de estar online e atualizado. Não é um facto que a primeira coisa que fazemos quando acordamos é consultar o telemóvel?!
Um dos sintomas mais evidentes deste excesso de informação é o doomscrolling – o hábito de consumir notícias negativas de forma excessivamente continuada. A cada movimento infinito do polegar, alimentamos a nossa fadiga emocional, o que nos acarreta um sentimento de impotência diante do caos do mundo. Além disso, a fadiga de empatia – resultado da exposição constante a crises globais, conflitos e injustiças – deixa-nos emocionalmente esgotados, reduzindo a nossa capacidade de lidar tanto com desafios pessoais, como sociais.
Quer queiramos quer não, este cenário entra-nos casa adentro e afeta diferentes grupos sociais, sendo que os jovens representam um exemplo complexo e alarmante. Os adolescentes e jovens de hoje cresceram na era do WWW e, em consequência, enfrentam desafios emocionais preocupantes. Embora demonstrem compromisso e consciência sobre temas como direitos humanos, diversidade e sustentabilidade, também lidam com a pressão constante de re-agir num mundo digitalizado, onde a comparação social e a procura por aceitação e validação online podem minar a sua autoestima. Além disso, será essa consciência, efetivamente, consciente? Ou uma moda em que se não fizer parte dela, não faz parte de nada?!
No ambiente de trabalho, a cultura do “sempre disponível” agrava ainda mais este intricado cenário. Os novos modelos de trabalho como o home office, as notificações incessantes e a pressão por produtividade e alta performance dissolvem as fronteiras entre vida profissional e pessoal (o tão aclamado work-life balance). Esta disponibilidade sobre-humana é uma fonte geradora de exaustão e dificulta a desconexão necessária para preservar o equilíbrio do nosso software interno, que faz de nós seres humanos.
Para navegar neste mundo altamente dependente das redes, sem sucumbir ao cansaço digital, a inteligência emocional torna-se uma aliada essencial nos nossos frenéticos dia-a-dias. Por exemplo, o desenvolvimento da autoconsciência permite-nos identificar quando a exposição digital pode estar a afetar o nosso bem-estar; por conseguinte, praticar a regulação emocional ajuda-nos a estabelecer limites saudáveis – criar espaços livres de telas, reduzir o consumo de notícias negativas e priorizar interações significativas são estratégias fundamentais.
Claro está que o desafio que se coloca não é rejeitar a tecnologia, mas aprender a usá-la de forma consciente e a favor do nosso desenvolvimento pessoal e emocional. Ao equilibrarmos certas dualidades antagónicas, como “conexão e desconexão”, “urgência e pausa”, “dedicação e descanso”, podemos construir uma relação mais saudável com o mundo digital e, ao mesmo tempo, fortalecer a nossa resiliência emocional.
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Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.