Assinala-se na próxima segunda-feira mais um Dia Internacional para a Eliminação da Violência Contra as Mulheres, com grandes marchas de protesto. Se continuam a não perceber porque é que ainda é necessário sair à rua e gritar contra a perniciosa equação de misoginia, poder e impunidade que alimenta a violência de género, então vamos a números, com dez dados específicos que nos deveriam tirar coletivamente o sono – ou, pelo menos, deixar-nos a pensar. Sabiam que:
– Em média, mundo fora, a cada 11 minutos uma mulher é assassinada às mãos de um parceiro íntimo ou de um familiar? A própria casa continua a ser o sítio mais perigoso para a vida das mulheres, garante a UN Women;
– Uma em cada quatro pessoas considera que pode ser justificável um homem agredir a sua companheira? Pelo menos foi o que concluiu um relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, apresentado em 2023, com dados recolhidos em 80 países;
– Só este ano, já foram assassinadas 25 mulheres em Portugal, e 53 sofreram um atentado à sua vida, em situações de violência doméstica? Os dados apurados pelo Observatório de Mulheres Assassinadas revelam ainda que, em metade dos casos, já existia violência prévia;
– Uma em cada dez mulheres em Portugal (10,3%) já sofreu violência física ou sexual na intimidade? Um número que aumenta para 22,5% se incluirmos a violência psicológica, como mostravam os dados do Inquérito sobre Segurança no Espaço Público e Privado, apresentado este verão pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) em parceria com a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV);
– Em 2022, foram feitas 519 participações pelo crime de violação em Portugal? Sendo que cerca de 93% das vítimas eram mulheres e 98% dos arguidos eram homens, segundo o Relatório Anual de Segurança Interna;
– Anualmente, 12 milhões de meninas e adolescentes são forçadas a casar? Isto dá uma média de 23 por minuto, contabiliza a UNICEF. Meninas que entram num ciclo de exclusão na educação, de dependência financeira, de gravidezes precoces, com danos irreversíveis à saúde, e de consequente exposição a violência física, sexual e emocional. Meninas e adolescentes que são privadas e qualquer possibilidade de vida livre, com todo o seu potencial;
– Mais de 4 milhões de meninas estão, todos os anos, em risco de sofrer mutilação genital? Um crime hediondo que continua a ser encarado como tradição e que as privará para sempre de uma vivência plena da sua sexualidade, além de acarretar inequívocas possibilidades de complicações em caso de gravidez e parto,
– Mais de 80% das vítimas de tráfico humano são mulheres e meninas, raptadas e vendidas como mercadoria em pleno século XXI? Dados da ONU Mulheres revelam ainda que 3 em cada 4 destas vítimas são depois alvo de exploração sexual;
– Uma em cada dez mulheres na União Europeia relata ter sofrido assédio sexual online desde os 15 anos? A Fundamental Rights Agency explica que isto inclui terem recebido e-mails, mensagens de chat ou SMS sexualmente explícitos indesejados e/ou ofensivos, ou avanços ofensivos e/ou inadequados em redes sociais. Um risco que é maior entre mulheres jovens de 18 a 29 anos;
– Ou que 82% das mulheres parlamentares relatam já ter sofrido alguma forma de violência psicológica enquanto cumpriam seus mandatos? Dados da Inter-Parliamentary Union mostram que as agressões se traduzem em comentários, gestos e imagens de natureza sexual sexista ou humilhante, ameaças e assédio moral. As mulheres – que representam atualmente apenas cerca 25% dos lugares parlamentares mundo fora – afirmam que o universo das redes sociais é o principal canal deste tipo de violência, e quase metade (44%) relatou ter recebido ameaças de morte, violação, agressão ou sequestro não só contra as próprias, mas também contra as suas famílias. Mais de 65% foram alvo de comentários sexistas, principalmente por colegas do sexo masculino dentro do próprio Parlamento.
É triste, mas a realidade em 2024 ainda é esta: vivemos num mundo onde, amiúde, meninas e mulheres continuam a ser traficadas e exploradas tal qual mercadoria, assassinadas principalmente pelos seus parceiros íntimos ou familiares, mutiladas a bem de crenças religiosas, agredidas sexualmente nos mais variados contexto, desde o da intimidade ao laboral, ou até mesmo o político, policiadas e castigadas se não cumprirem a moral e bons costumes impostos pelos homens, silenciadas pela própria máquina da Justiça, que tantas vezes lhes falha.
Dia 25 de novembro marchemos contra tudo isto. Na vida, todos os dias, sejamos agentes de mudança a tempo inteiro.
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.