O leitor terá esta revista nas mãos no dia em que se discute e vota, na generalidade, o Orçamento do Estado para 2025. Sem grande suspense, por enquanto: a anunciada abstenção do PS e os votos a favor do PSD e do CDS serão o suficiente para que o importante documento seja, para já, aprovado. Segue-se, depois, um longo mês de discussão na especialidade, bastante estéril, ocasião para que todos os partidos, mesmo os que votam contra, possam apresentar propostas de alteração. Este mês de atividade intensa, todo espremido, não tem dado nada: noutros anos, os partidos têm apresentado mais de mil propostas de alteração que, no limite, se fossem aprovadas, não só modificariam o Orçamento, ao ponto de já não ser o mesmo – e poder ser, até, o oposto – como aumentariam para níveis incomportáveis a despesa pública: no leilão eleitoralista dos partidos, o que interessa é saber quem tem as medidas mais populares, um “quem dá mais” que só é possível para quem não está no Governo. Desta vez, porém, sem uma maioria absoluta, poderá ser diferente. Veremos se os votos combinados de PS e Chega, nalgumas matérias, não poderão mesmo dinamitar o documento aprovado na quinta-feira. Por outro lado, nesta feira de propostas, pode pôr-se uma questão: os partidos que votaram contra estariam na disposição de alterar o seu voto, na votação global, de final de novembro, caso as suas propostas fossem aceites? Ou estão ali para empatar? Neste aspeto, raramente a Assembleia da República dedica tantas horas e energia a uma tarefa tão pouco produtiva.
Este importante momento político ocorre na mesma semana em que uma muito completa sondagem da Universidade Católica para RTP/Antena 1/Público coloca a AD à frente, nas intenções de voto, com quatro pontos de vantagem sobre o PS. Ao mesmo tempo, o Chega recupera de desaires anteriores e volta aos 18% que conseguiu a 10 de março. O estudo foi realizado já depois de conhecida a decisão de Pedro Nuno Santos, em viabilizar o Orçamento. Perante isto, será que fez bem? A chave da resposta está nas perguntas das entrelinhas da sondagem: ao avaliar o Governo e o desempenho dos líderes políticos, uma maioria muito mais confortável dá nota positiva ao Executivo e coloca Luís Montenegro como o mais cotado. Significa isto que Pedro Nuno Santos fez bem e, viabilizando a manutenção do Governo, foi ao encontro dos desejos dos eleitores. Pelo que – e isto tem sempre a sua dose de especulação – seria muito mais penalizado se fizesse o contrário. Mas também revela que este PS “pedronunista”, que se mantém estático, desde 10 de março, não consegue penetrar à sua direita. Sendo que, à esquerda, já tem pouca margem para crescer: partidos como o Bloco ou o PCP já estão no osso e dali já não deve vir muita transferência de votos. Por outro lado, o desempenho do Chega também pode ser enganador: se os portugueses avaliam tão positivamente o Governo, é certo e sabido que a maioria dessas respostas vem de eleitores da direita e, portanto, de muitos do Chega. Será que, num teste de stresse de eleições, eles se manteriam fiéis, ou, pelo contrário, optariam, desta vez, por dar à AD mais condições para governar? Finalmente, deve dizer-se que este resultado não cai do céu: em grande medida, ele deve-se à estratégia do Governo, que conduziu, durante estes meses, uma política marcadamente eleitoralista, com especial incidência na recuperação do “mercado pensionista”. Mas isso não vai durar para sempre.