A regra número um do jornalismo é simples: o jornalista não deve ser notícia! Sabemos que já a desrespeitámos algumas vezes, ao longo deste ano, aqui na VISÃO, mas o assunto é sério – tão sério que o primeiro-ministro falou sobre ele novamente esta terça-feira, 8, numa conferência dedicada ao futuro dos media.
Durante o evento, Luís Montenegro reforçou o papel fundamental do jornalismo para a manutenção da Democracia, e elencou uma série de medidas, que podem ser consultadas na página oficial do Governo, para tentar mitigar um problema que, assumiu novamente o governante, é estrutural. Montenegro lamentou que muitas vezes a comunicação social faça um “jornalismo ofegante”, no sentido de tentar ser mais rápido, ao invés de ter a tranquilidade e a calma necessárias para uma análise profunda da realidade. Não está errado, o chefe do Executivo. Mas a velocidade do mundo tem, inevitavelmente, contagiado os jornalistas, que cada vez chegam a menos pessoas, alimentam mais plataformas, recebem menos e trabalham mais. As empresas de media transformaram-se em máquinas que tentam fazer dinheiro num negócio que poucas vezes o conseguiu – perceber isso era meio caminho andado para abordar o assunto de outra forma.
Pensar em programas de literacia mediática para os alunos do Ensino Secundário parece visionário, mas na Finlândia esse cuidado é tido a partir do Ensino Básico – com crianças de telemóvel e ecrãs na mão desde que nascem, chegar ao Secundário sem saber distinguir a verdade da mentira é uma tragédia para a democracia. A proliferação de canais de informação nas redes sociais, sem fontes fidedignas e com a ajuda de algoritmos que disseminam mentiras como se fossem verdades absolutas, não vai abrandar. A única forma de garantir que a verdade continua a ser vista como tal é dando às pessoas ferramentas para identificar os factos não verificados. E as fontes falsas da informação que recebem.
No mesmo sentido, os incentivos à assinatura de jornais e revistas são de louvar, mas continuam a ser insuficientes: porque, se não há hábitos de consumo de informação desde cedo, eles não vão vingar no futuro. E não chegam para financiar empresas deficitárias (como é o caso da dona da VISÃO). Se os media são um pilar da Democracia, devem ser tratados como tal: com os apoios certos, universais e transversais. Devem ser alvo de políticas públicas sérias, com regulação apertada e com objetivos concretos. Com leis que incentivem o mecenato e o investimento num setor que, se é tão fundamental como se diz, não pode ser deixado ao abandono, nem tratado como outro qualquer.
Os governos têm sempre muito medo de que se diga que estão a interferir nos media. Como se os media não tivessem capacidade para controlar essa pressão – é esse o nosso trabalho. E como se alguns dos mais respeitados meios não fossem totalmente públicos: veja-se o exemplo da RTP, da BBC, da France TV…
Graças a esse medo, os sucessivos executivos nacionais deixaram os media definhar, apontando agora problemas estruturais que existem e foram identificados há anos, e para os quais foram devidamente alertados. É muito bom ver um Governo comprometido, finalmente, com medidas concretas. Mas temo que, se não houver rapidamente um esforço mais musculado, sobrem poucos meios para defender a Democracia daqui a muito pouco tempo.
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