Como residente de um bairro histórico de Lisboa, há duas perguntas que se apoderam dos meus dias de agosto: “Como se vai para o Castelo de São Jorge?” e “Onde se pode comer num restaurante genuíno e barato?” Numa tasca? Isso já não existe nestas redondezas, embora há pouco tempo tenha estado à conversa com o dono de uma, situada mesmo em frente à Sé Catedral. Perguntei-lhe, com um prato de caracóis em cima da mesa: “Como é que resiste?” Resposta: “Todos os dias me entram aqui a oferecer dinheiro para comprar o espaço e transformá-lo numa loja de recordações. E eu pergunto-lhes: ‘Além do espaço, fica-me também com a mulher e os filhos para os sustentar?’”
Sem ilusões: sabemos qual o fado de um país à beira-mar plantado, cheio de sol todo o ano, com uma História rica e monumentos apreciáveis. E não, não é ser nação de marinheiros a meter a mão nas riquezas alheias por esse mundo fora; é ser, antes, invadido e conquistado por hordas de turistas que nos acham simpáticos e pacatos.