Do ódio às elites ao nacionalismo, da corrupção à imigração, é bom de ver que, entre nós, André Ventura não se distingue por ser original, seguindo o cardápio dos temas dos partidos radicais. Mas também é fácil de ver que, para o bom e para o mau, tudo chega tarde a Portugal. Nem o líder do partido Chega se atreve a pôr em causa a União Europeia, ímpeto populista que há oito anos deu origem ao Brexit, com consequências desastrosas para o Reino Unido, nem a tensão social que se vive em Portugal tem comparação possível com a dos EUA.
Do lado de lá do Atlântico, existem analistas que defendem que se está à beira da explosão. Há muito que também se fala, inclusivamente, no modo como a política contaminou as próprias relações, com relatos de histórias tristes, amigos que deixaram de o ser e famílias que passaram a evitar encontros por causa de partilhas nas redes sociais. Nos republicanos, mas também nos democratas, o discurso político tem acompanhado a subida da temperatura: os adversários são encarados como inimigos, e muitas vezes, até numa lógica de caça ao voto, são as vozes mais moderadas que se deixam contaminar pelo radicalismo.